(Notas titia Steph: Vocês vão reconhecer partes desse capítulo -
pequenas partes sobreviveram e foram combinadas com o que é agora o Capítulo 20
("Impaciência"). Este capítulo diminuiu o ritmo da parte da
"caçada" da história, mas eu senti que havia cortado muito da
personalidade da Alice quando o sacrifiquei.)
Twilight - Compras com Alice
O carro era brilhante, preto e poderoso; as janelas
dele eram tingidas como as janelas de uma limusine. O motor ronronava como um
gato enorme enquanto nós acelerávamos pela noite profunda.
Jasper dirigia com uma mão, sem parecer se importar,
mas o musculoso carro continuava a voar em frente com perfeita precisão.
Alice sentou-se comigo no banco traseiro de couro
preto. De alguma forma, durante a longa noite, a minha cabeça havia acabado
encostada no pescoço de granito dela, com os braços frios dela me enrolando,
sua bochecha pressionada no topo da minha cabeça. A frente da camisa fina de
algodão dela estava fria, úmida com as minhas lágrimas. De vez em quando, se a
minha respiração acabava ficando desigual, ela murmurava suavemente; com a sua
voz rápida, alta, os encorajamentos pareciam uma canção. Para me manter calma,
eu me concentrei no toque da sua pele fria; isso parecia ser uma conexão física
com Edward.
Os dois haviam me assegurado - quando eu me dei
conta, o pânico tomou conta de mim, todas as minhas coisas ainda estavam na
caminhonete - que deixar tudo para trás era necessário, alguma coisa a ver com
o cheiro. Eles disseram para eu não me preocupar com roupas ou com dinheiro. Eu
tentei confiar neles, fazendo um esforço para ignorar o quanto eu estava
desconfortável com as roupas de Rosalie que não me serviam direito. Isso era
uma coisa trivial para a mente.
Nas rodovias macias, Jasper nunca dirigiu o carro
musculoso a menos de cento e vinte milhas por hora. Ele parecia extremamente
inconsciente dos limites de velocidade, mas nós não vimos nenhum carro de
patrulha. As únicas paradas que fizemos durante a viagem monótona foram as duas
vezes em que paramos pra reabastecer.
Eu percebi à toa que Jasper entrou as duas vezes pra
fazer o pagamento em dinheiro.
O nascer do sol começou a aparecer quando estavamos
em algum lugar ao norte da Califórnia. Eu observei com os olhos secos, ardendo,
enquanto uma luz cinzenta começava a aparecer no céu sem nuvens.
Eu estava exausta, mas o sono me iludia, minha mente
estava muito cheia de imagens perturbadoras pra relaxar e ficar inconsciente. A
expressão devastada de Charlie; o rugido brutal de Edward, com os dentes
descobertos; o olhar afiado nos olhos do perseguidor; a expressão vazia de
Laurent; o olhar morto nos olhos de Edward depois que ele me beijou pela última
vez... Elas eram como slides passando na frente dos meus olhos, os meus
sentimentos se alternavam entre terror e desespero.
Em Sacramento, Alice quis que Jasper parasse pra
pegar comida pra mim. Mas eu balancei a minha cabeça, cansada, e disse com uma
voz oca para ele continuar dirigindo.
Algumas horas depois, num subúrbio fora de Los
Angeles, Alice falou suavemente com ele de novo e ele saiu da rodovia, fazendo
soar meus protestos febris. Um grande shopping era visível da estrada e ele
dirigiu naquela direção, estacionando na garagem, embaixo do nível dos
estacionamentos subterrâneos.
- Fique com o carro - ela instruiu Jasper.
- Você tem certeza? - Ele parecia apreensivo.
- Eu não vejo ninguém aqui - ela disse. Ele balançou
a cabeça, consentindo.
Alice pegou minha mão e me tirou do carro. Ela
segurou minha mão, me mantendo próxima, ao seu lado, enquanto saíamos da
garagem escura. Ela ficou à beira da garagem, ficando na sombra. Eu percebi
como a pele dela parecia brilhar com a luz que refletia na calçada. O shopping
estava lotado, muitos grupos de compradores passaram, alguns deles viraram as
cabeças para nos ver passando. Nós caminhamos por baixo de uma ponte que
cruzava do nível mais alto dos estacionamentos até o segundo andar de uma loja
de departamentos, sempre nos mantendo fora dos caminhos da luz do sol.
Quando estávamos do lado de dentro, embaixo das
luzes fluorescentes da loja, Alice pareceu menos impressionante - somente uma
garota com pele cor de giz e olhos alertas, mas sombreados, e com o cabelo
espetadinho. Os círculos embaixo dos meus olhos, eu tinha certeza, estavam mais
evidentes do que os dela.
Nós ainda chamávamos a atenção de qualquer que
olhasse para o nosso caminho. Eu me perguntei o que eles pensavam que estavam
vendo. A Alice delicada, dançante, com o seu estonteante rosto de anjo, vestida
com tecidos leves, em cores pálidas que não se comparavam exatamente com o tom de
pele dela, de mãos dadas comigo, obviamente me guiando pelo caminho, enquanto
eu cambaleava cansada nas minhas roupas que não ficavam bem, mas que eram
caras, o meu cabelo embaraçado nas minhas costas.
Alice me guiou diretamente para o centro alimentício.
- O que você quer comer?
O cheiro das comidas gordurosas fez o meu estômago
revirar. Mas os olhos de Alice não estavam abertos a persuasão. Eu pedi um
sanduíche de peru, sem o menor entusiasmo.
- Eu posso ir ao banheiro? - eu perguntei enquanto
nós íamos para a fila.
- Tudo bem. - E ela mudou de direção, sem nunca
soltar a minha mão.
- Eu posso ir sozinha. - A atmosfera lotada do
shopping me fez sentir mais normal do que eu havia me sentido desde o jogo
desastroso da noite do dia anterior.
- Desculpa, Bella, mas Edward vai ler a minha mente
quando ele chegar aqui, e se ele ver que eu deixei você sair de vista por um
minuto... - Ela parou, sem vontade de contemplar as conseqüências.
Pelo menos ela esperou do lado de fora do banheiro
lotado. Eu lavei o meu rosto assim como as minhas mãos, ignorando os olhares
assustados das mulheres ao meu redor. Eu tentei passar os dedos pelos meus
cabelos, mas eu desisti rapidamente. À porta, Alice pegou minha mão e nós
caminhamos lentamente de volta para a fila da comida. Eu estava me arrastando,
mas ela não pareceu impaciente comigo.
Ela me observou comendo, devagar no início e depois
mais rapidamente quando o meu apetite voltou. Eu bebi o refrigerante que ela me
trouxe tão rapidamente que ela teve que me deixar por um momento - porém, sem
tirar os olhos de cima de mim - pra pegar outro.
- A comida que você come é definitivamente mais
conveniente - ela comentou enquanto eu terminava. - Mas ela não parece muito
divertida.
- Caçar é mais excitante, eu imagino.
- Eu não tenho idéia. - Ela meu um sorriso largo que
mostrava todos os dentes e várias cabeças se viraram na nossa direção.
Depois de jogar o nosso lixo fora, ela me guiou
pelos grandes corredores do shopping, os olhos dela brilhando de vez em quando
em direção a alguma coisa que ela queria, me fazendo bater com ela a cada vez
que ela parava. Ela parou por um momento numa loja cara para comprar três pares
de óculos escuros, dois femininos e um masculino. Eu reparei quando o vendedor
lançou a ela um olhar incrédulo quando ela lhe deu um cartão de crédito
estranho, cheio de listras douradas. Ela encontrou uma loja de acessórios, na
qual ela comprou uma escova e alguns elásticos.
Ela não começou a trabalhar até que nós chegamos ao
tipo de loja onde eu nunca tinha entrado, porque até o preço de um par de meias
estaria fora das minhas possibilidades.
- Você deve ser tamanho dois. - Isso era uma
afirmação, não uma pergunta.
Ela me usou como burro de carga, me enchendo com uma
pilha estonteante de roupas. De vez em quando eu a via pegando um tamanho
extra-pequeno enquanto ela escolhia alguma coisa para si mesma.
As roupas que ela escolhia para ela eram todas de
materiais leves, mas sempre de mangas longas ou no comprimento dos calcanhares,
que serviriam para cobrir a pele dela o máximo possível.
A vendedora teve a mesma reação ao cartão de crédito
estranho, se tornando mais servil e chamando Alice de "senhorita". No
entanto, o nome que ela disse não era familiar. Assim que estávamos fora do
shopping de novo, com os braços cheios com as nossas sacolas, das quais ela
tinha a parte maior, eu perguntei a ela sobre isso.
- Do que ela te chamou?
- O cartão de crédito diz Rachel Lee. Nós vamos ser
muito cuidadosos para não deixar nenhum tipo de pista para o perseguidor. Vamos
trocar as suas roupas.
Eu pensei nisso enquanto ela me guiava para os
provadores, me puxando até a parte mais livre para que eu tivesse espaço para
me movimentar.
Eu a ouvi procurando pelas sacolas, finalmente
passando um vestido de algodão azul para mim pela porta. Eu tirei
agradecidamente os jeans muito longos e muito apertados de Rosalie, tirei a
blusa que ficava folgada nos lugares errados em mim e passei de volta para ela
pela porta. Ela me surpreendeu me passando um par se sandálias de couro suave
por baixo da porta, quando foi que ela comprou isso? O vestido ficou
incrivelmente bem em mim, o corte caro ficava aparente pela forma com que ele
se ajustava em mim.
Enquanto eu saía da cabine, eu percebi que ela
estava jogando as coisas de Rosalie no lixo.
- Fique com os seus tênis - ela disse. Eu os
coloquei numa bolsa.
Nós voltamos para a garagem. Alice chamou menos
olhares dessa vez; ela estava tão coberta de sacolas que a pele dela mal estava
visível.
Jasper estava esperando. Ele escorregou pra fora do
carro quando nós nos aproximamos - a mala estava aberta. Enquanto ele pegava as
minhas sacolas primeiro, ele olhou para Alice com um olhar mordaz.
- Eu sabia que deveria ter ido junto - ele murmurou.
- Sim - ela concordou. - Elas teriam te adorado no
banheiro feminino.
Ele não respondeu.
Alice procurou rapidamente entre as sacolas dela
antes de colocá-las na mala. Ela deu a Jasper um par de óculos, colocando um
par nela mesma. Ela me deu o terceiro par e a escova. E ela puxou uma blusa
fina, de mangas longas, de um preto transparente, colocando-a por cima da sua
camiseta, deixando-a aberta. Finalmente, ela complementou com um chapéu de
palha. Nela, a roupa larga parecia ter saído de uma passarela. Ela agarrou mais
uma porção de roupas e, enrolando elas como uma bola, ela abriu a porta de trás
e fez um travesseiro no banco.
- Você precisa dormir agora - ela ordenou
firmemente. Eu me agachei obedientemente no banco, encostando a minha cabeça
imediatamente, virando-me de lado. Eu estava meio adormecida quando o carro
ligou.
- Você não deveria ter me comprado todas essas
coisas - eu murmurei.
- Não se preocupe com isso, Bella. Durma. - A voz
dela estava tranqüila.
- Obrigada. - Eu respirei e caí num cochilo
intranqüilo.
Foi a dor por ter dormido numa posição estranha que
me acordou. Eu ainda estava exausta, mas repentinamente alerta quando eu me
lembrei de onde eu estava. Eu me sentei para ver o vale do sol aparecendo à
minha frente; as largas superfícies planas dos telhados, as palmeiras,
rodovias, muita fumaça e as piscinas, abraçadas pelas curtas costas de pedra
que nós chamávamos de montanhas. Eu fiquei surpresa por não sentir nenhum senso
de alívio, só uma estridente saudade de casa pelos céus chuvosos e cercas
verdes do lugar que havia trazido Edward pra mim.
Eu balancei a cabeça, tentando afastar a onda de
desespero que ameaçava tomar conta de mim.
Jasper e Alice estavam conversando, cientes, eu
tinha certeza, de que eu estava consciente de novo, mas eles não deram nenhum
sinal.
Suas vozes rápidas, suaves, eram uma alta onda de
músicas ao meu redor. Eu entendi que eles estavam decidindo onde ficar.
- Bella. - Alice se dirigiu a mim casualmente, como
se eu já fosse parte da conversa. - Em que direção fica o aeroporto?
- Fique na 1-10 - eu disse automaticamente. - Nós
vamos passar direto por ele.
Eu pensei por um momento; meu cérebro ainda estava
nebuloso com o sono.
- Vamos pegar um vôo pra algum lugar? - eu
perguntei.
- Não, mas é melhor ficar por perto, na dúvida. -
Ela tirou seu telefone e aparentemente ligou para a central de informações. Ela
falou mais devagar do que o normal, perguntando por hotéis que ficassem perto
do aeroporto, concordando com as sugestões e depois pausando enquanto ela fazia
outra ligação. Ela fez reservas para uma semana em nome de Christian Bower,
dizendo um número de cartão de crédito sem olhar pra um. Eu a ouvi repetindo as
informações para o operador; eu tinha certeza de que ela não precisava de ajuda
com a memória dela. A visão do telefone me lembrou das minhas
responsabilidades.
- Alice - eu disse, enquanto ela terminava. - Eu
preciso ligar pro meu pai. - Minha voz estava sóbria. Ela me passou o telefone.
Já era de tarde; eu estava esperando que ele
estivesse no trabalho. Mas ele atendeu no primeiro toque. Eu vacilei,
imaginando o rosto ansioso dele ao telefone.
- Pai? - eu disse, hesitantemente.
- Bella! Onde você está, querida? - Um forte alívio
aparecia na voz dele.
- Eu estou na estrada. - Eu não precisava contar que
havia feito uma viagem de três dias em uma noite.
- Bella, você precisa voltar.
- Eu preciso ir pra casa.
- Querida, vamos falar sobre isso. Você não precisa
ir embora só por causa de um garoto. - Ele estava sendo muito cuidadoso, eu
podia notar.
- Pai, me dê uma semana. Eu preciso pensar nas
coisas e depois eu decido se vou voltar. Isso não tem nada a ver com você, ok?
- A minha voz tremeu levemente. - Eu amo você, paizinho. O que quer que eu
decida, eu te vejo em breve. Eu prometo.
- Tudo bem, Bella. - A voz dele estava resignada. -
Me ligue quando chegar em Phoenix.
- Eu te ligo lá de casa, pai. Tchau.
- Tchau, Bells. - Ele hesitou antes de desligar.
"Pelo menos eu já estava de bem com Charlie de
novo", eu pensei enquanto passava o telefone de volta pra Alice. Ela me
observou cuidadosamente, talvez esperando por outro colapso sentimental. Mas eu
estava cansada demais.
A cidade familiar passava voando por mim pelas
janelas escuras. O trânsito estava leve. Nós fizemos rapidamente o caminho até
o centro da cidade e depois contornamos pelo norte do Sky Harbor Internacional,
virando ao sul em Tempe.
Do outro lado do rio Salt River, a mais ou menos uma
milha do aeroporto, Jasper saiu da estrada sob comando de Alice. Ela o
direcionou facilmente através das ruas até a entrada do Hilton, próximo ao
aeroporto. Eu estava pensando em um motel, mas eu tinha certeza de que eles iam
acabar com as minhas preocupações com dinheiro. Eles pareciam ter uma reserva
infindável. Nós estacionamos na garagem com manobristas debaixo da sombra de
uma grande árvore e dois atendentes se aproximaram rapidamente do
impressionante automóvel. Jasper e Alice saíram rapidamente, muito parecidos
com estrelas de cinema com seus óculos escuros. Eu saí estranhamente, rígida
pelas horas que passei dentro do carro, me sentindo simples demais. Jasper
abriu a mala e os obsequiosos empregados rapidamente pegaram nossas bolsas de
compras e as colocaram num carrinho. Eles eram bem treinados demais para se
surpreenderem com a nossa falta de verdadeira bagagem.
O carro estava bem frio dentro do seu interior
escuro; sair à tarde em Phoenix, mesmo na sombra, era como enfiar a minha
cabeça dentro de um forno industrial. Pela primeira vez naquele dia, eu me
senti em casa.
Jasper andou confiantemente pelo saguão vazio. Alice
se manteve cuidadosamente ao meu lado, os atendentes nos acompanhando
ansiosamente com as nossas coisas. Jasper se aproximou da mesa com seu ar
inconscientemente real. "Bower" foi tudo o que ele disse para a
recepcionista com aparência profissional. Ela rapidamente processou a
informação, com apenas a menor das olhadas para o ídolo de cabelos dourados na
frente dele e isso traiu sua profissionalidade. Nós fomos rapidamente guiados
para a nossa grande suíte. Eu sabia que os dois quartos eram só por pura
convencionalidade. Os atendentes colocaram eficientemente as nossas malas no
chão, enquanto eu me sentava fracamente no sofá e Alice ia dançando examinar os
outros quartos. Jasper apertou as mãos deles enquanto eles saíam, e o olhar que
eles trocaram na saída foi mais que de satisfação - foi de soberba. E aí
ficamos sozinhos.
Jasper foi para as janelas, fechando as duas camadas
de cortinas seguramente. Alice apareceu e derrubou um cardápio do serviço de
quarto no meu colo.
- Peça alguma coisa - ela instruiu.
- Eu estou bem - eu disse, boba.
Ela me deu uma olhada obscura e pegou o cardápio de
volta. Murmurando algo sobre Edward, ela pegou o telefone.
- Alice, sério - eu comecei, mas o olhar dela me
silenciou. Eu coloquei a minha cabeça no braço do sofá e fechei os meus olhos.
Uma batida na porta me acordou. Eu me levantei tão
rápido que rolei do sofá para o chão e bati a minha testa na mesinha de café.
- Ow - eu disse, confusa, esfregando a minha testa.
Eu ouvi Jasper rir uma vez e olhei pra cima para
vê-lo cobrindo a boca, tentando abafar o resto da sua diversão. Alice abriu a
porta, pressionando os lábios firmemente, os cantos da boca dela se
contorcendo.
Eu corei e voltei para o sofá, segurando a cabeça
nas mãos. Era a minha comida; o cheiro de carne vermelha, queijo, alho e
batatas girava ao meu redor. Alice carregou a bandeja com tanta maestria, como
se ela tivesse sido garçonete por anos, e a colocou na mesa aos meus joelhos.
- Você precisa de proteína - ela explicou,
levantando o globo prateado para revelar um grande filé e uma escultura
decorativa de batata. - Edward não vai ficar feliz se o seu sangue cheirar
anêmico quando ele chegar aqui.
Eu tinha quase certeza de que ela estava brincando.
Agora que eu conseguia cheirar a comida, eu estava
com fome de novo. Eu comi rapidamente, sentindo a energia retornar enquanto os
açúcares entravam no meu sistema sanguíneo. Alice e Jasper me ignoraram, assistindo
o jornal e conversando tão rapidamente e tão baixo que eu não consegui entender
uma só palavra.
Uma segunda batida soou na porta. Eu pulei, ficando
de pé, cuidadosamente evitando outro acidente com a bandeja meio vazia na
mesinha de café.
- Bella, você precisa se acalmar - Jasper disse,
enquanto Alice atendia a porta. Uma camareira da equipe do hotel entregou a ela
uma pequena sacola com a logo do Hilton e foi embora rapidamente. Alice a
trouxe e entregou para mim. Eu a abri para encontrar uma escova de dente, pasta
de dente e todas as outras coisas necessárias que eu havia deixado na minha
caminhonete. As lágrimas pularam dos meus olhos.
- Vocês são tão gentis comigo. - Eu olhei para Alice
e depois para Jasper, emocionada. Eu me dei conta de que Jasper estava sendo
anormalmente cuidadoso para não se aproximar de mim, então eu me surpreendi
quando ele veio para o meu lado e passou o braço pelos meus ombros.
- Você é parte do grupo agora - ele brincou,
sorrindo calidamente. Eu senti uma pesada lassitude passando pelo meu corpo, de
repente minhas pálpebras estavam pesadas demais pra segurar. - Muito súbito,
Jasper - eu ouvi Alice dizer num tom torto. Seus braços frios e magros
escorregaram por baixo dos meus joelhos e por trás das minhas costas. Ela me
levantou, mas eu já estava adormecida antes que ela me colocasse na cama.
Era muito cedo quando eu acordei. Eu tinha dormido
bem, sem sonhos, e eu estava mais alerta do que geralmente ficava quando
acordava. Estava escuro, mas havia flashes avermelhados de luz entrando por
baixo da porta. Eu me inclinei para o lado da cama, tentando encontrar uma
luminária na mesinha de cabeceira. Uma luz se acendeu em cima da minha cabeça,
eu fiquei asfixiada, e Alice estava lá, ajoelhada ao meu lado na cama, sua mão
estava sobre a luz que era estupidamente instalada sobre a cabeceira da cama.
- Desculpa - ela disse enquanto eu me jogava de
volta no travesseiro, aliviada. - Jasper está certo - ela continuou. - Você
precisa relaxar.
- Bem, não diga isso a ele - eu murmurei. - Se ele
tentar me relaxar mais ainda, eu vou entrar em coma.
Ela gargalhou. - Você percebeu, né?
- Se ele tivesse me atingido na cabeça com uma
frigideira, teria sido menos óbvio.
- Você precisa dormir. - Ela levantou os ombros,
ainda sorrindo.
- E agora eu preciso de um banho, eca! - Eu me dei
conta de que ainda estava usando o vestido azul, que agora estava tão amassado
quanto tinha o direito de estar. Minha boca estava com um gosto estranho.
- Eu acho que você vai ficar com uma mancha na testa
- ela mencionou enquanto eu ia para o banheiro.
Depois que eu me limpei, eu me senti muito melhor.
Eu vesti as roupas que Alice havia colocado em cima da cama para mim, uma blusa
verde que parecia ser feita de seda, e shorts de linho cor de bronze.
Eu me senti culpada por minhas roupas novas serem
tão mais legais do que as outras coisas que eu tinha deixado para trás.
Foi bom finalmente fazer alguma coisa com o meu
cabelo; os xampus do hotel eram de boa qualidade e o meu cabelo ficou brilhando
de novo. Levou algum tempo pra secá-lo até que ele ficasse perfeitamente liso.
Eu tinha a sensação de que não faríamos muita coisa hoje. Uma inspeção mais
próxima no espelho revelou uma mancha escura em cima da minha sobrancelha.
Fabuloso.
Quando eu finalmente apareci, havia luz aparecendo
pelas beiradas das cortinas grossas. Alice e Jasper estavam sentados no sofá,
olhando pacientemente para a TV quase muda. Havia uma nova bandeja de comida na
mesa. - Coma - Alice disse, apontando pra ela firmemente.
Eu me sentei obedientemente no chão e comi sem
reparar na comida. Eu não gostava da expressão nos rostos de nenhum deles dois.
Eles estavam quietos demais. Eles assistiam a TV sem nunca desviar os olhos,
mesmo quando os comerciais estavam passando. Eu empurrei a bandeja, meu
estômago abruptamente inquieto. Agora Alice olhava para baixo, olhando para a
bandeja quase cheia com um olhar de desgosto.
- Qual é o problema, Alice? - eu perguntei,
submissa.
- Não há nada errado. - Ela me olhou com olhos
grandes, honestos, nos quais eu não acreditei nem por um segundo.
- Bem, o que fazemos agora?
- Nós esperamos Carlisle ligar.
- E ele já devia ter ligado a essa hora? - Eu podia
ver que estava me aproximando da verdade. Os olhos de Alice flutuaram de mim
para o telefone no topo da sua bolso de couro e depois de volta.
- O que isso significa? - Minha voz tremeu e eu
lutei para controlá-la. - Que ele ainda não tenha ligado? - Isso só significa
que eles ainda não têm nada para nos dizer. - Mas a voz dela estava uniforme demais,
e de repente o ar ficou difícil de respirar.
- Bella - Jasper disse, numa voz suspeitosamente
tranqüilizadora -, você não tem com o que se preocupar. Você está completamente
segura aqui.
- Você acha que eu estou preocupada com isso? - eu
perguntei, sem acreditar.
- E o que mais há? - Ele também parecia surpreso.
Ele devia sentir o teor das minhas emoções, mas ele não conseguia ler as razões
por trás delas.
- Você ouviu o que Laurent disse. - Minha voz estava
baixa, mas eles podiam me ouvir facilmente, é claro. - Ele disse que James é
letal. E se alguma coisa der errado e eles se separarem? E se alguma coisa
acontecer com qualquer um deles? Carlisle, Emmett... Edward... - Eu engoli em
seco. - E se a fêmea selvagem machucar Rosalie ou Esme...? - Minha voz ficou
mais alta, um tom de histeria começando a aparecer por trás dela. - Como é que
eu vou conseguir viver comigo mesma sabendo que é minha culpa? Nenhum de vocês
devia estar se arriscando por mim-
- Bella, Bella, pare - ele me interrompeu, as
palavras dele fluindo rapidamente. - Você está se preocupando com as coisas
erradas, Bella. Confie em mim, nenhum de nós corre risco. Você está passando
por muito estresse com isso, não acrescente preocupações desnecessárias a tudo
isso. Ouça - eu havia desviado o olhar -, nossa família é forte. O nosso único
medo é perder você.
- Mas por que vocês...? - Alice me interrompeu dessa
vez, tocando a minha bochecha com os seus dedos frios.
- Já faz quase um século que Edward tem estado
sozinho. Agora ele encontrou você e a nossa família está inteira. Você acha que
nós vamos querer olhar nos olhos dele pelos próximos cem anos se ele te perder?
Minha culpa foi desaparecendo enquanto eu olhava
para os olhos escuros dela. Mas, mesmo enquanto a calma se espalhava por mim,
eu sabia que não podia confiar nos meus sentimentos quando Jasper estava
presente.
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