sábado, 22 de dezembro de 2012

Sol da Meia Noite - Capitulo 2

Capitulo 02 - Livro aberto
 

Eu me deitei sobre o monte de neve, deixando que se amoldasse ao peso do meu corpo. Minha pele esfriou para se igualar com o ar frio ao meu redor, e sentindo os pequenos pedaços de gelo como veludo sob a minha pele

O céu acima de mim estava limpo e brilhante com as estrelas, com um brilho em alguns lugares, e amarelo em outros. A s estrelas criaram formas majestosas um turbilhão de formatos em contraste com o universo escuro. Uma beleza refinada. Ou melhor, deve ser muito bonito. Ou deve ter sido, se eu realmente pudesse ver.

Eu não estava ficando melhor. Seis dias se passaram seis dias que eu venho me escondendo aqui na região dos Denali, mas não estou mais perto da liberdade de quando eu senti pela primeira vez o aroma dela.

Enquanto eu encarava o céu estrelado, era como se houvesse uma obstrução entre meus olhos e a sua beleza. A obstrução era um rosto, um rosto humano comum, mas eu não conseguia tirá-lo da minha cabeça.

Eu ouvi pensamentos se aproximando antes mesmo de ouvir os passos que os acompanhava. O som do movimento era um fraco suspiro entre a neve.

Não fiquei surpreso ao ver que Tanya havia me seguido até aqui. Ela vem refletindo sobre essa conversa há dias, esperando apenas o momento que ela tinha certeza do que ela tinha para dizer. Ela soltou um suspiro a uns sessenta metros de distância. Pulando na parte de cima de uma pedra escura, e balançando descalça nas pontas dos pés.

A pele de Tanya ficava prateada sob a luz das estrelas, e os seus longos loiros cachos brilhavam pálidos quase rosas com uma tonalidade morango. Seus olhos cor de âmbar cintilaram enquanto ela me espionava, meio enterrado na neve, e seus fartos lábios se esticaram lentamente formando um sorriso.

Linda. Se eu realmente pudesse vê-la. Suspirei.

Ela se agachou no topo da pedra e encontrou as pontas do seus dedos na pedra, seu corpo enrolado.

"Cannonball", ele pensou.

Ela se lançou no ar, o seu corpo formou uma sombra escura e distorcida enquanto ela graciosamente de virou e ficou entre mim e as estrelas. Ela se enrolou enquanto acertava a pilha de neve que estava do meu lado.

Uma chuva de neve caiu ao meu redor. As estrelas desapareceram e fiquei enterrado debaixo de várias formas de cristais de gelo.

Suspirei novamente, mas não me movi para me acalmar. A escuridão debaixo da neve não machucou nem melhorou a vista. Ainda via o mesmo rosto.

“Edward?”

Então a neve estava voando novamente enquanto Tanya me desenterrava. Ela retirou a neve do meu rosto inanimado sem olhar direito para mim.

“Desculpe”, ela murmurou. “Era só uma brincadeira”.

“Eu sei. Foi divertido.”

A sua boca se retorceu.

“Irina e Kate disseram que eu deveria deixar você sozinho. Elas acham que eu estou lhe aborrecendo”.

“De maneira alguma”, garanti a ela. “Ao contrário eu que estou sendo rude, abominavelmente rude. Eu sinto muito”.

"Você está indo para casa, não é?" Ela pensou.

“Ainda não me decidi completamente”.

"Mas você não vai ficar aqui." Seus pensamentos eram tristes e nostálgicos.

“Isso não está me... ajudando”

Ela faz uma careta. “É minha culpa, não é?”

“Claro que não”, menti delicadamente.

"Não seja um cavalheiro."

Eu ri.

"Eu faço você se sentir desconfortável", ela apontou.

“Não”.

Ela levantou uma sobrancelha, sua expressão tão incrédula que eu tive que rir.

Um riso pequeno seguido de um suspiro.

“Tudo bem”, eu admiti. “Um pouco”.

Ela suspirou também, colocando seu queixo em suas mãos. Seus pensamentos eram de vergonha.

“Você é mil vezes mais adorável que as estrelas Tanya. Claro que você sabe disso. Não deixe minha teimosia acabar com a sua auto -estima”. Eu ri comigo mesmo da situação.

“Não estou acostumada a rejeição”, disse com raiva. Seus lábios formando uma cara zangada muito atrativa.

“Certamente não”, concordei, tentando com pouco sucesso afastar os pensamentos dela da minha mente, enquanto ela relembrava as suas milhares de conquistas bem sucedidas. Na maioria Tanya preferia homens – eles eram mais populosos, com o acréscimo de serem macios e quentes. E definitivamente, sempre ávidos.

“Succubus”, eu brinquei, esperando interromper as imagens que passavam na mente dela.

Ela riu, mostrando seus dentes. “A original”.

Diferente de Carlisle, Tanya e suas irmãs foram descobrindo e trabalhando sua consciência aos poucos. No final foi o carinho pelos homens humanos que fizeram as irmãs se voltarem contra o massacre. Agora os homens que elas amam...vivem.

“Quando você apareceu aqui”, disse Tanya devagar, “eu pensei que...”

Eu sei o que ela pensou. E eu devia imaginar que ela se sentiria dessa forma. Mas eu não estava na minha forma de pensar analiticamente naquele momento.

“Você pensou que eu mudei de idéia.”

“Sim”, disse de cara feia.

“Eu me sinto muito mal por brincar com suas expectativas. Não era o que eu queria – não estava pensando. Eu saí com muita pressa.”

“Suponho que você não vai me dizer o motivo...”

Sentei-me e enrolei meus braços ao redor das minhas pernas, numa posição defensiva. “Eu não quero falar nisso”.

Tanya, Irina e Kate eram boas nessa vida a qual elas se comprometeram.

Melhores, às vezes, até que Carlisle. Apesar da proximidade que elas permitem daqueles que deveriam ser - e que uma vez foram – suas presas, elas não cometiam erros. Estava muito envergonhado para admitir a minha fraqueza para Tanya.

“Problemas com mulheres?” Ela tentou adivinhar, ignorando a minha relutância.

Sorri de forma vazia. “Não do jeito que você imagina”.

Ela ficou quieta. Escutei seus pensamentos enquanto ela tentava adivinhar, tentando decifrar o significado das minhas palavras.

“Você nem está perto”, eu disse a ela.

“Uma dica?”, ela pediu.

“Por favor, deixa para lá, Tanya”.

Ela ficou quieta novamente especulando. Eu a ignorei, tentando, sem sucesso, apreciar as estrelas.

Ela desistiu por um minuto e seus pensamentos foram em outra direção.

"Para onde você vai Edward, se você for embora? De volta para Carlisle?"

“Acho que não”, murmurei.

Para onde eu iria? Não consegui pensar em nenhum lugar que eu tivesse interesse em ir. Não tinha nada que eu quisesse ver ou fazer. Porque não importava para onde eu fosse, eu não estaria indo para algum lugar – estaria apenas fugindo.

Eu odiei isso. Quando eu fiquei tão covarde?

Tanya colocou seu esbelto braço ao redor dos meus ombros, me endureci, mas não me encolhi com o seu toque. Ela demonstrou que não era nada mais que conforto entre amigos. A maior parte.

“Eu acho que você vai voltar”, ela disse, sua voz com um pouco do que resta do seu sotaque russo. “Não imposta quem é ou o que é que esta lhe assombrando. Você vai encarar de cabeça erguida. Você é desse tipo”.

Seus pensamentos eram tão certos quanto as suas palavras. Eu tentei seguir a imagem que ela tinha de mim na cabeça. Foi prazeroso poder pensar em mim daquela maneira novamente. Eu nunca duvidei da minha coragem, da minha habilidade em enfrentar problemas, antes daquela terrível hora na aula de biologia a pouco tempo atrás.

Eu beijei o seu rosto, empurrando levemente quando ela virou seu rosto em minha direção e seus lábios estavam curvados.

Ela riu secamente com minha rapidez.

“Obrigado Tanya, eu precisava ouvir isso”.

Seus pensamentos ficaram atrevidos. “De nada, eu acho. Eu adoraria que você pudesse ser razoável com as coisas, Edward.”

“Sinto muito, Tanya. Você sabe que você é boa demais para mim. Eu apenas... ainda não encontrei o que eu estou procurando.”

“Enfim, se você for embora antes de lhe ver novamente... adeus Edward.”

“Adeus Tanya”. Enquanto eu dizia as palavras eu pude ver. Eu pude me ver indo embora. Sendo forte o suficiente para estar onde eu quero. “Obrigado novamente.” Ela estava em pé novamente com um movimento ágil, e então ela estava correndo, movendo-se to rápido na neve que seus pés não tinham tempo de tocar a neve. Ela não deixou marcas. Ela não olhou para trás. Minha rejeição a incomodou mais desta vez, inclusive nos seus pensamentos. Ela não queria me ver novamente antes de eu partir.

Minha boca se contorceu de desgosto, eu não gostava de ferir os sentimentos de Tanya, embora eles não fossem profundos, puros e de qualquer forma algo que eu desejasse retribuir. Isso ainda me fez sentir menos cavalheiro.

Pus meu queixo em meus joelhos e encarei as estrelas novamente, embora estivesse ansioso de voltar. Eu sabia que Alice me veria voltando para casa, e avisaria aos outros. Isso os faria felizes – especialmente Carlisle e Esme. Mas eu olhei mais uma vez para estrelas, tentando ver o rosto em minha mente. Entre mim e o luminoso céu estava aquele par de olhos marrons assustados que em encaravam, parecendo que perguntar o que esta decisão significava para ela. Claro que eu não poderia ter certeza se essa era a informação que seus olhos viam. Até na minha imaginação eu não podia ouvir os seus pensamentos. Os olhos da Bella Swan continuavam a perguntar e a vista das estrelas continuava a me evitar. Com um suspiro profundo eu desisti e me levantei. Se eu corresse estaria no carro de Carlisle em uma hora.

Com pressa em ver minha família – e desejando muito ser o Edward que vai encarar tudo de cabeça erguida – corri através da terra coberta por neve, sem deixar pegadas.

“Vai dar tudo certo”, disse Alice. Seus olhos estavam sem foco, enquanto Jasper tinha uma mão colocada levemente sob o seu cotovelo, guiando-a enquanto entravamos no refeitório num grupo fechado. Rosalie e Emmett iam à frente, Emmett parecendo com um ridículo guarda-costas em meio a um território hostil. Rose olhava desconfiada, mas na realidade estava mais irritada do que protetora.

“Claro que sim”, disse. O comportamento deles era ridículo. Se não estivesse certo que daria conta da situação, eu teria ficado em casa.

A mudança repentina para a nossa normal e divertida manhã – nevou a noite, e Emmett e Jasper estavam aproveitando a minha distração para me bombardear com bolas de neve; quando eles ficaram cansados com a minha falta de reação, eles se viraram um para o outro – essa vigilância excessiva seria cômica se não fosse tão irritante.

“Ela não está aqui ainda, mas o caminho que ela entrar... não vai ser contra o vento se sentarmos no lugar de sempre.”

“Claro que vamos nos sentar no lugar de sempre. Pare Alice. Você esta me dando nos nervos. “Estarei completamente bem”.

Ela piscou uma vez enquanto Jasper a ajudava a sentar e seus olhos finalmente se focaram em meu rosto.

“Humm”, ela disse, parecendo surpresa. “Eu acho que você está bem”.

“Claro que estou bem”, eu falei.

Eu odiei ser motivo de preocupação. Eu senti uma súbita simpatia pelo Jasper, lembrando todas as vezes que tomamos uma posição protetora com relação a ele. Ele encontrou o meu olhar e riu.

Irritante né?

Olhei irritado para ele.

Havia passado apenas uma semana, quando esse ambiente parecia ser mortalmente chato para mim? Que parecia mais como se estivesse dormente por estar aqui?

Hoje meus nervos estavam estressados – como cordas de piano, prontos para tocar sob a menor pressão. Meus sentidos estavam super alertas; prestei atenção a cada som, cada visão, todo movimento do ar que chegava a minha pele, cada pensamento.

Especialmente os pensamentos. Existia apenas um sentido que eu me recusava a usar.

Cheirar, claro. Eu não respirava.

Eu esperava ouvir mais sobre os Cullens nos pensamentos que eu lia. O dia todo fiquei esperando, procurando por qualquer novo encontro que Bella Swan possa ter tido, tentando ver a direção que as fofocas iriam tomar. Mas não tinha nada. Ninguém reparava nos cinco vampiros no refeitório, os mesmo que estavam ali antes da nova garota chegar. Muitos dos humanos ainda estavam tendo os mesmo pensamentos da semana passada. Ao invés de achar isso terrivelmente chato, eu estava fascinado.

Ela não disse nada para ninguém sobre mim?

Não existe possibilidade dela não ter notado o meu olhar assassino e escuro. Eu vi ela reagir a ele. Certamente eu assustei a boba. Eu tinha certeza que ela teria comentado isso com alguém, talvez até exagerado um pouco a história para torná-la melhor. Dando algumas linhas de ameaças.

E então ela me vê tentando sair da sala dela de biologia. Ela deve ter imaginado, depois de ver a minha expressão, que ela era a causa. Uma garota normal teria saído perguntando, comparando sua experiência com a dos outros, buscando coisas em comum que explicassem o meu comportamento, para que ela não se sentisse isolada. Humanos estavam constantemente tentando serem normais, de se encaixar. De se misturarem uns com os outros como um grupo de ovelhas. Essa necessidade era particularmente forte na adolescência. Esta garota não devia ser uma exceção a essa regra.

Mas ninguém tomou conhecimento de nós sentados ali, em nossa mesa. Bella deveria ser excepcionalmente tímida, se ela confidenciou a ninguém... talvez ela tenha falado com o seu pai, talvez esse seja o seu relacionamento mais forte...embora não seja provável já que ela passou pouco tempo com ele em sua vida. Então ela deve ser próxima de sua mãe. Ainda, teria que passar pelo chefe Swan em um momento próximo e escutar o que ele estiver pensando.

“Algo novo?”, perguntou Jasper.

“Nada. Ela não deve ter dito nada .”

Todos levantaram suas sobrancelhas com essa novidade.

“Talvez você não seja tão assustador como você pensa que é”, disse Emmett rindo. “Eu aposto que poderia assustá-la melhor do que você.”

Virei meus olhos para ele.

“Me pergunto por que?”. Ele se perguntou novamente sobre as revelações sobre o silencio daquela garota.

“Eu não sei.”

“Ela está chegando”, Alice murmurou. Senti meu corpo ficando rígido. “Tente parecer humano”.

“Você disse humano?”, Emmett perguntou.

Ele levantou seu pulso direito, movendo seus dedos para mostrar uma bola de neve que ele mantinha guardada em sua palma. Claro que não derreteu. Ele transformou em um bloco de gelo. Ele tinha os olhos em Jasper, mas eu vi o que ele queria fazer. O mesmo fez Alice, claro. Quando ele arremessou o pedaço de gelo nela, ela afastou um com gesto com os dedos. O gelo ricocheteou através de todo cumprimento do refeitório, muito rápido para a visão humana, e se espatifou contra o muro de pedra. O muro quebrou também.

As cabeças naquele canto viraram para olhar para a pilha de gelo quebrado no chão, e tentaram descobrir o culpado. Eles não olharam muito adiante, apenas há algumas mesas de distancia. Ninguém olhou para nós.

“Muito humano Emmett”, Rosalie disse “por que você não esmurrou a parede enquanto isso?”

“Pareceria mais impossível se você fizesse baby.”

Tentei prestar atenção nele, mantendo um sorriso em meu rosto como se fizesse parte da brincadeira. Não permiti que eu olhasse para a linha onde eu sabia que ela estava. Mas era tudo que eu estava ou vindo.

Eu podia ouvir a impaciência de Jéssica com a novata, que parecia estar distraída também, estática enquanto a fila andava. Eu vi, nos pensamentos de Jéssica, que as bochechas de Bella Swan estavam mais uma vez pintadas de rosa brilhante com sangue.

Eu inspirei brevemente, com minha respiração entrecortada, pronto para parar de respirar caso algum sinal do cheiro dela tocasse o ar próximo a mim.

Mike Newton estava com as duas garotas. Eu ouvi ambas as vozes, mental e verbal, quando ele perguntou para Jéssica o que estava errado com a garota Swan. Eu não gostei da forma que seus pensamentos se enrolavam ao redor dela, a luz de fantasias já estabelecidas que nublavam sua mente enquanto ele a observava começar e sair de seu devaneio como se ela estivesse esquecido que ele estava ali.

“Nada”, eu ouvi Bella dizer naquela voz quieta e clara. Parecia soar como um sino acima da tagarelice da cafeteria, mas eu sabia que era só porque eu estava ouvindo-a muito intensamente.

“Eu só vou pegar um refrigerante hoje”, ela continuou enquanto se movia para alcançar a fila.

Eu não pude evitar lançar um olhar em sua direção. Ela estava encarando o chão, o sangue suavemente escapando de seu rosto. Eu desviei o olhar rapidamente, para Emmett, que riu ao ver meu sorriso dolorido que agora estava em meu rosto.

"Você parece doente, mano."

Eu reorganizei minhas feições para que minha expressão parecesse casual e sem esforço. Jéssica estava perguntando em voz alta sobre a falta de fome da garota. “Você não está com fome?”

“Na verdade, eu estou um pouco enjoada.” A voz dela estava mais baixa, mas ainda muito clara.

Por que isso me incomodava, a preocupação protetora que de repente emanou dos pensamentos de Mike Newton? O que importava se havia uma barreira possessiva para eles? Não era da minha conta se Mike Newton se sentia desnecessariamente ansioso por ela. Talvez essa era a forma que todos respondiam a ela. Eu também não tinha, instintivamente, querido protegê-la? Antes de eu ter querido matá-la, quero dizer...

Mas estava a garota doente?

Era difícil julgar – ela parecia tão delicada em sua pele translúcida... Então eu percebi que estava me preocupando, também, exatamente como aquele garoto estúpido, e eu me forcei a não pensar sobre a saúde dela.

Apesar disso, eu não gostava de monitorá-la pelos pensamentos de Mike. Eu mudei para os de Jéssica, observando cuidadosamente eles três escolherem uma mesa para se sentar. Felizmente, eles sentaram com os companheiros normais de Jéssica, numa das primeiras mesas da sala. Não na direção do vento, exatamente como Alice havia prometido.

Alice me acotovelou. "Ela irá olhar em breve, aja como um humano."

Eu trinquei meus dentes atrás do meu sorriso forçado.

“Acalme-se, Edward” Emmett disse. “Sério. Então você mata um humano. Isso dificilmente é o fim do mundo.”

“Você deveria saber” Eu murmurei.

Emmett riu. “Você tem que aprender a superar as coisas. Como eu faço. A eternidade é um tempo longo demais para se afogar em culpa.”

Nesse instante, Alice jogou um punhado de gelo que ela estava escondendo no rosto de inocente de Emmett.

Ele piscou surpreso, e então deu um sorriso amarelo de antecipação.

“Você pediu por isso”, ele disse, enquanto se inclinava por sobre a mesa e balançava seu cabelo cheio de gelo em sua direção. A neve, derretida no cômodo quente, voou de seu cabelo em uma chuva densa meio -líquida, meio-sólida.

“Eca!” Rose reclamou, enquanto ela e Alice se encolhiam, tentando fugir do dilúvio.

Alice riu e todos nós a acompanhamos. Eu podia ver na cabeça de Alice como ela havia orquestrado esse momento perfeito e eu sabia que a garota – eu devia parar de pensar nela dessa forma, como se ela fosse a única garota no mundo – que Bella estaria assistindo enquanto nós riamos e brincávamos, parecendo tão felizes e humanos e surrealmente ideais quanto uma pintura de Norman Rockwell.

Alice continuou rindo e levantou sua badeja como um escudo. A garota – Bella deveria ainda estar nos encarando.

"...Encarando os Cullen novamente" , alguém pensou, chamando minha atenção.

Eu olhei automaticamente na direção da chamada acidental, percebendo quando meus olhos acharam seu destino que eu reconhecia a voz – eu a estava escutando demais hoje.

Mas meus olhos deslizaram por Jéssica e se focaram no olhar penetrante da garota.

Ela olhou para baixo rapidamente, se escondendo em seu denso cabelo novamente.

O que ela estava pensando? A frustração pareceu ficar mais aguda enquanto o tempo passava ao invés de diminuir. Eu tentei – incerto do que eu estava fazendo porque eu nunca havia tentado isso novamente – sondar com minha mente o silêncio ao seu redor.

Minha audição extra sempre havia vindo para mim naturalmente, sem pedir; eu nunca havia tido a necessidade de trabalhar isso. Mas eu me concentrei agora, tentando quebrar seja lá qual fosse o escudo que a rodeasse.

Nada além do silêncio.

"O que é que ela tem?" Jéssica pensou, ecoando a minha própria frustração.

“Edward Cullen está te encarando”, ela sussurrou na orelha da garota Swan, adicionando uma risadinha. Não havia sinal de sua irritação ciumenta no seu tom.

Jéssica parecia ser habilidosa em dissimular amizade.

Eu ouvi, absorto, a resposta da garota.

“Ele não parece irritado, parece?” ela sussurrou de volta.

Então ela tinha percebido minha reação selvagem semana passada. Claro que ela tinha.

A pergunta confundiu Jéssica. Eu vi meu próprio rosto em seus pensamentos enquanto ela checava minha expressão, mas eu não encontrei seu olhar. Eu ainda estava concentrado na garota, tentando ouvir alguma coisa. Meu foco intenso não parecia estar ajudando de forma alguma.

“Não”, Jess falou para ela e eu sabia que ela gostaria de poder dizer sim – como isso a corroia por dentro, meu olhar – apesar de não haver nenhum traço disso em sua voz. “Ele deveria estar?”

“Eu não acho que ele goste de mim”, a garota sussurrou de volta, apoiando sua cabeça em seu braço como se ela estivesse subitamente cansada. Eu tentei compreender o movimento, mas eu só poderia tentar adivinhar. Talvez ela estivesse cansada.

“Os Cullens não gostam de ninguém” Jess a confortou. “Bem, eles não notam ninguém o suficiente para gostar deles.” Eles nunca costumavam fazer isso." Seu pensamento era um lamento de reclamação. “Mas ele ainda está te encarando.”

“Pare de olhar para ele”, a garota disse ansiosamente, levantando a sua cabeça de seu braço para se certificar de que Jéssica havia obedecido a sua ordem.

Jéssica riu, mas fez como foi pedida.

A garota não desviou o olhar de sua mesa durante o resto da hora. Eu pensei – apesar, é claro, de não poder ter certeza – de que isso foi deliberado. Parecia que ela queria olhar para mim. Seu corpo se virava suavemente em minha direção, seu queixo começava a virar e então ela percebia, respirava fundo e encarava fixamente seja lá quem estivesse falando.

Eu ignorei o pensamento dos outros ao redor da garota por quase todo o tempo, pois eles não eram, momentaneamente, sobre ela. Mike Newton estava planejando uma guerra de neves no estacionamento depois da escola, não parecendo perceber que a neve já havia se tornado chuva. O tremor dos pequenos flocos contra o telhado havia se tornado um padrão mais comum de gotas de chuva. Ele não podia ouvir a mudança?

Parecia tão alto para mim.

Quando o horário de almoço acabou, eu continuei no meu assento. Os humanos saíram e eu me peguei tentando distinguir o som de seus passos do som dos outros, como se houvesse algo importante ou incomum quanto a eles. Que estúpido.

Minha família não fez um movimento para sair também. Eles esperaram para ver o que eu iria fazer.

Eu iria ir para a sala, sentar ao lado da garota onde eu poderia sentir o cheiro absurdamente potente de seu sangue e sentir o calor do seu pulso no ar ao redor de minha pele? Eu era forte o suficiente para isso? Ou eu havia tido o suficiente para um dia?

“Eu... acho que está tudo bem.” Alice disse, hesitante. “Sua mente está decidida. Eu acho que você irá sobreviver por essa hora.”

Mas Alice sabia bem o quão rapidamente uma mente poderia mudar.

“Por que forçar, Edward?” Jasper perguntou. Apesar dele não querer se sentir orgulhoso que eu era quem era fraco dessa vez, eu podia ouvir que ele sentia, só um pouco. “Vá para casa. Vá devagar.”

“Qual o problema?” Emmett discordou. “Se ele vai ou não matar ela. Deve da mesma forma superar isso, seja qual for o caminho.”

“Eu ainda não quero me mudar”, Rosalie reclamou. “Eu não quero recomeçar." Nós estamos quase nos formando no Ensino Médio, Emmett. Finalmente.’

Eu estava de forma justa atormentado pela decisão. Eu queria, eu queria muito, encarar isso com a cabeça erguida do que fugir novamente. Mas eu não queria me provar demais, também. Havia sido um erro semana passada para Jasper ficar tanto tempo sem caçar; isso era um erro tão sem sentido também?

Eu não queria fazer minha família se mudar. Nenhum deles me agradeceria por isso.

Mas eu queria ir para a minha aula de biologia. Eu percebi que queria ver o seu rosto novamente.

Aquilo decidiu a questão para mim. Aquela curiosidade. Eu estava com raiva de mim mesmo por sentir aquilo. Eu não havia prometido para mim mesmo que eu não deixaria o silêncio da mente da garota me fazer ficar desnecessariamente interessado nela? E ainda assim, aqui estava eu, muito desnecessariamente interessado.

Eu queria saber o que ela estava pensando. Sua mente estava fechada, mas seus olhos eram muito abertos. Talvez eu pudesse lê-los ao invés de sua mente.

“Não, Rose, eu realmente acho que tudo vai ficar bem”, Alice disse. “Está... se firmando. Eu estou noventa e três por cento certa de que nada de ruim irá acontecer se ele for para a aula”. Ela olhou para mim inquisitivamente, se perguntando sobre o que havia mudado em meu pensamento que fez suas visões do futuro ficarem mais seguras.

Seria a curiosidade suficiente para manter Bella Swan viva?

Emmett estava certo, apesar de tudo – por que não superar isso, de alguma forma? Eu iria encarar a tentação de cabeça erguida.

“Ir para a aula”, eu ordenei, me afastando da mesa. Eu me virei e me afastei deles sem olhar para trás. Eu podia ouvir a preocupação de Alice, a censura de Jasper, a aprovação de Emmett e a irritação de Rosalie me seguindo.

Eu tomei mais uma profunda respiração na porta da sala de aula e então prendi o ar em meus pulmões enquanto eu entrava no espaço pequeno e quente.

Eu não estava atrasado. O professor Banner ainda estava organizando as coisas para o laboratório de hoje. A garota sentava na minha – na nossa mesa, seu rosto abaixado novamente, encarando a pasta com a qual estava rabiscando. Eu examinei o rascunho enquanto eu me aproximava, interessado até nessa criação trivial de sua mente, mas era sem sentido. Só um desenho aleatório com ondas dentro de ondas.

Talvez ela não estivesse se concentrando no padrão, mas pensando em outra coisa?

Eu puxei minha cadeira com uma grosseria desnecessária, deixando-a arranhar o linóleo; humanos sempre se sentiam mais confortáveis quando barulho anunciava a aproximação de alguém.

Eu sabia que ela havia escutado o som; ela não olhou para cima, mas suas mãos perderam uma onda no desenho que ela estava fazendo, deixando-o desequilibrado.

Por que ela não havia olhado para cima? Provavelmente ela estava assustada. Eu devia me certificar de deixá-la com uma impressão diferente dessa vez. Fazê-la pensar que ela estava imaginando coisas antes.

“Olá”, eu disse na voz quieta que eu usava quando eu queria deixar os humanos mais confortáveis, formando um sorriso educado com meus lábios que não mostraria nada de dentes.

Ela olhou para cima então, seus grandes olhos castanhos chocados – quase desconcertada – e cheios de perguntas silenciosas. Era a mesma expressão que estava obstruindo as minhas visões pela última semana.

Enquanto eu encarei aqueles estranhos e profundos olhos castanhos, eu percebi que o ódio – o ódio que eu imaginei que essa garota de alguma forma merecia por simplesmente existir – havia evaporado. Sem respirar agora, sem sentir seu cheiro, era difícil acreditar que alguém tão vulnerável pudesse sequer justificar o ódio.

Suas bochechas começaram a corar e ela não disse nada.

Eu mantive meus olhos nos dela, focando apenas nos seus questionamentos profundos e tentei ignorar a cor apetitosa. Eu tinha ar o suficiente para falar por algum tempo sem precisar respirar.

“Meu nome é Edward Cullen”, eu disse, apesar de saber que ela sabia aquilo. Era a forma educada de começar. “Eu não tive uma oportunidade de me apresentar semana passada. Você deve ser Bella Swan.”

Ela pareceu confusa – havia uma pequena ruga entre seus olhos novamente.

Levou meio segundo a mais do que deveria ter levado para ela responder.

“Como você sabe meu nome?” ela perguntou e sua voz tremeu só um pouco.

Eu devo ter realmente aterrorizado ela. Isso me fez sentir culpado, ela era apenas indefesa. Eu ri gentilmente – era o som que eu sabia que fazia os humanos se sentirem melhor. Novamente, eu tomei cuidado com meus dentes.

“Oh, eu acho que todo mundo sabe seu nome”. Certamente ela deve ter percebido que ela havia se tornado o centro das atenções nesse lugar monótono. “Toda a cidade estava esperando pela sua chegada.”

Ela franziu a testa como se essa informação fosse desagradável. Eu presumi que sendo tímida como ela era, atenção pareceria algo ruim para ela. A maioria dos humanos sentia o oposto. Apesar deles não quererem se destacar do rebanho, ao mesmo tempo queriam um holofote para sua uniformidade individual.

“Não” ela disse. “Eu quis dizer, por que me chamou de Bella?”

“Prefere Isabella? “ eu perguntei, perplexo pelo fato de que não podia ver para onde a sua pergunta estava levando. Eu não entendi. Com certeza, ela deixou sua preferência clara muitas vezes naquele primeiro dia. Todos os humanos eram incompreensíveis assim sem um contexto mental como guia?

“ Não, gosto de Bella.”- ela respondeu, inclinando a cabeça levemente para um lado. Sua expressão - se eu estivesse lendo corretamente - estava dividida entre vergonha e confusão. “Mas eu acho que Charlie… quer dizer, meu pai, deve me chamar de Isabella nas minhas costas. É como todo mundo aqui parece me conhecer.” Sua pele ficou um tom de rosa mais escuro.

“Ah.” eu disse indevidamente, e rapidamente desviei meus olhos de seu rosto.

Eu tinha acabado de entender o que as perguntas dela queria dizer: eu tinha escorregado - cometido um erro. Se eu não tivesse escutando as conversar dos outros naquele primeiro dia, então eu teria chamado inicialmente pelo nome inteiro, como todos os outros. Ela tinha notado a diferença.

Eu senti uma dor de desconforto, foi muito rápido para ela perceber meu erro. Bem astuta especialmente para alguém que deveria estar aterrorizada pela minha proximidade.

Mais se tinha problemas maiores do que qualquer suspeita sobre mim ela estava trancando dentro de sua cabeça.

Eu estava sem ar. Se eu fosse falar com ela de novo, eu teria que respirar.

Seria difícil evitar falar. Infelizmente para ela, compartilhar esta mesa a tornava minha parceira de laboratório, e nós teríamos que trabalhar juntos hoje. Seria estranho - e incompreensivelmente rude - eu ignorá-la enquanto nós fazíamos a experiência. Iria deixá-la mais suspeita, com mais medo…

Eu me inclinei para o mais longe que eu podia dela sem mexer minha cadeira, virando minha cabeça para o corredor. Firmei-me, travando meus músculos no lugar, e então suguei um pulmão inteiro de ar rapidamente, respirando por minha boca.

Ahh!

Era genuinamente doloroso. Mesmo sem sentir o cheiro dela, ou podia sentir o gosto dela em minha língua. Minha garganta de repente estava em chamas outra vez, a necessidade tão forte como a daquele primeiro momento em que eu senti o cheiro dela.

Juntei meus dentes e tentei me recompor.

“Podem começar.” O Sr. Banner comandou.

Pareceu que tomou cada pequena partícula do autocontrole que eu tinha acumulado em setenta anos de trabalho árduo para virar minha cabeça para a garota, que estava olhando para a mesa, e sorrir.

“Primeiro as damas, parceiras?” eu ofereci.

Ela olhou para minha expressão e seu rosto ficou vazio, os olhos arregalados. Havia algo de errado com a minha expressão? Ela estava assustada novamente? Ela não falou.

‘Ou eu posso começar, se preferir.” eu disse calmamente.

“ Não.” ela disse, e seu rosto passou de branco para vermelho outra vez. “Eu começo.”

Eu encarei o equipamento na mesa, o microscópio arranhado, a caixa de slides, ao invés de ver o sangue correr por baixo da pele clara. Respirei de novo depressa, por meus dentes, e recuei quando o gosto fez minha garganta arder.

“Prófase.” ela disse depois de um rápido exame. Ela começou a remover o slide, embora ela mal o tinha visto.

“Importa-se se eu olhar?” Instintivamente - estupidamente, como se eu fosse da espécie dela - eu estendi para parar a mão que removia o slide. Por um segundo, o calor de sua pele queimou a minha. Foi como uma corrente elétrica - certamente muito mais quente do que meros 37 graus. O tiro de calor passou pela minha mão e correu pelo meu braço. Ela puxou rapidamente a sua mão debaixo da minha.

“Desculpe-me,” eu murmurei por dentre meus dentes trincados. Precisando de algum lugar para olhar, eu segurei o microscópio e olhei brevemente pelo buraco. Ela estava certa.

“Prófase,” eu concordei.

Eu ainda estava demasiadamente perturbado para olhá-la. Respirando tão calmamente quanto eu podia por dentre meus dentes cerrados e tentando ignorar a sede furiosa, eu tentava me concentrar naquela simples tarefa, escrevendo a palavra no espaço adequado na lâmina do laboratório, e então trocando o primeiro slide pelo próximo.

O que ela estava pensando agora? Como será que ela se sentiu, quando eu toquei a sua mão? Minha pele deve ter parecido gelo - repulsivo. Não me admirava que estivesse tão quieta.

Eu dei uma olhada no slide.

“Anáfase.” eu disse para mim mesmo enquanto eu escrevia na segunda linha.

“Posso?” ela perguntou.

Eu olhei para cima, para ela, surpreso ao ver que ela estava esperando, na expectativa, uma mão metade estendida em direção ao microscópio. Ela não parecia estar com medo. Ela realmente pensava que eu tinha errado na resposta?

Eu não me segurei e sorri com o seu olhar esperançoso no rosto enquanto eu passava o microscópio para ela.

Ela encarou no microscópio com uma vontade que logo desapareceu. Os cantos de sua boca rapidamente desceram.

“Slide 3?” Ela perguntou, sem olhar pra cima do microscópio, mas com sua mão estendida. Eu coloquei o próximo slide na mão dela, sem deixar minha pele chegar perto da dela dessa vez. Sentar do lado dela era como sentar do lado de uma lâmpada. Eu podia sentir conforme eu esquentava aos poucos com a temperatura mais alta.

Ela não olhou para o slide por muito tempo. “Interfase” ela disse de forma casual - talvez tentando com muita vontade - e empurrou o microscópio na minha direção. Ela não encostou no papel, mas esperou que eu escrevesse a resposta. Eu chequei - ela estava certa de novo.

Nós terminamos dessa forma, falando uma palavra por vez nunca nos olhando nos olhos. Nós éramos os únicos que haviam acabado - os outros na aula estavam tendo mais dificuldade com o laboratório. Mike Newton parecia estar tendo problemas se concentrando - ele estava tentando observar Bella e eu.

“Queria que ele tivesse ficado onde ele foi” Mike pensou, me olhando com raiva. Hmm, interessante. Eu não tinha notado que o garoto tinha mantido algum sentimento negativo sobre mim. Isso era um novo acontecimento, tão recente quanto à chegada da nova garota. Ainda mais interessante, eu pensei - para minha própria surpresa - que o sentimento era mútuo.

Eu olhei pra baixo para a garota de novo, perplexo pelo tamanho da devastação e violência que, apesar de comum; sem ameaças aparente, ela estava causando em minha vida.

Não era como se eu não pudesse ver o que Mike estava pensando. Ela na verdade estava bonita… de uma forma diferente. Melhor do que estando bonita, seu rosto estava interessante. Não tão simétrico - seu queixo mais pontudo fora de sincronia com as maçãs do rosto largas; fortemente ruborizadas. - o claro e escuro contraste da sua pele e seu cabelo; e então os olhos. Brilhando sobre silenciosos segredos.

Olhos que de repente estavam perdidos nos meus.

Eu a encarei de volta, tentando descobrir pelo menos um de seus segredos.

“Você conseguiu lentes de contato?”, ela perguntou abruptamente.

Que pergunta esquisita. “Não.” Eu quase sorri com a ideia de melhorar minha visão.

“Oh” ela resmungou. “Eu achei que tinha algo diferente com os seus olhos”.

Eu me senti subitamente gelado novamente enquanto eu percebi que eu aparentemente não era o único querendo desencavar segredos hoje.

Eu dei de ombros, com eles enrijecidos, e olhei na direção para onde o professor estava fazendo seus círculos.

Claro que havia algo de diferente em meus olhos desde a última vez que ela havia os encarado. Para me preparar para a experiência de hoje, para a tentação de hoje, eu havia gastado todo o fim de semana caçando, saciando minha sede tanto quanto possível, exagerando, na verdade. Eu havia me empanturrado no sangue de animais, não que fizesse muita diferença na frente de todo o sabor ultrajante flutuando no ar ao redor dela. Quando eu a encarei da última vez, meus olhos estavam negros com a sede. Agora, meu corpo estava nadando em sangue, meus olhos estavam em um dourado aconchegante. Um âmbar claro da minha tentativa excessiva de saciar minha sede.

Outro escorregão. Se eu havia percebido o que ela queria dizer com a sua pergunta, eu poderia ter dito apenas sim.

Eu havia sentado ao lado de humanos por dois anos agora nessa escola e ela era a primeira pessoa a me examinar perto o suficiente para perceber a mudança na cor dos meus olhos. Os outros, enquanto admiravam a beleza da minha família, tendiam a olhar para baixo rapidamente quando nós devolvíamos os seus olhares. Eles se afastavam, bloqueando os detalhes de nossas aparências de uma forma instintiva para afastá-los da compreensão. Ignorância era uma benção para a mente humana.

Por que tinha que ser essa garota que veria demais?

Professor Banner se aproximou de nossa mesa. Eu agradecidamente puxei o ar fresco que ele trouxe consigo antes que ele pudesse se misturar com o cheiro dela.

“Então, Edward,” ele disse, olhando por sobre nossas respostas, “você não acha que Isabella deveria ter uma chance no microscópio?”

“Bella”, eu corrigi ele por reflexo. “Na verdade, ela identificou três de cinco.”

Os pensamentos do professor Banner eram céticos quando ele se virou e olhou

para a garota. “Você já fez esse laboratório antes?”

Eu assistir, curioso, enquanto ela sorria, parecendo levemente envergonhada.

“Não com raiz de cebola.”

“Blástula de pescado branco?”, o senhor Banner a sondou.

“É.”

Isso o surpreendeu. O laboratório de hoje era algo que ele havia tirado de um curso mais avançado. Ele balançou a cabeça de modo ponderado para a garota. “Você estava em um programa avançado de colocação em Phoenix?”

“Sim.”

Ela era avançada então, inteligente para uma humana. Isso não me surpreendeu.

“Bem”. Sr. Banner disse, franzindo seus lábios. “Eu acho que é bom que vocês dois sejam parceiros de laboratório.” Ele se virou e se afastou, resmungando, “Para que os outros alunos possam ter uma chance de aprender alguma coisa sozinha”, por debaixo de sua respiração. Eu duvidei que a garota pudesse ouvir aquilo. Ela começou a desenhar as ondas por sobre sua pasta novamente.

Dois escorregões em meia hora. Um espetáculo muito pobre da minha parte.

Apesar de que não ter ideia do que a garota pensava de mim – quanto ela temia, quanto ela suspeitava? – eu sabia que precisava colocar um maior esforço para deixá-la com uma nova impressão de mim. Alguma coisa boa para afogar as suas memórias do nosso último encontro.

“É uma pena sobre a neve, não é?” Eu disse, repetindo a pequena conversa que eu já havia escutado uma dúzia de estudantes discutindo. Um tópico entediante, padrão, de conversa. O tempo – sempre seguro.

Ela me encarou com uma dúvida óbvia nos seus olhos – uma reação anormal para minhas palavras extremamente normais. “Na verdade não.”, ela disse, me surpreendendo novamente.

Eu tentei dirigir a conversa de volta para um terreno banal. Ela era de um lugar bem mais brilhante e quente – sua pele parecia refletir isso de alguma forma, apesar de sua brancura – e o frio deveria fazê-la se sentir desconfortável. Meu toque gelado com certeza havia...

“Você não gosta de frio.”, eu adivinhei.

“Ou de umidade.”, ela concordou.

“Forks deve ser um lugar difícil para você viver.” Talvez você não devesse ter vindo para cá, eu queria adicionar. Talvez você devesse voltar para onde você pertence .

Apesar disso, eu não tinha certeza se queria aquilo. Eu iria sempre lembrar do cheiro do sangue dela – havia alguma garantia de que eu não iria eventualmente segui -la? Além disso, se ela fosse embora, sua mente permaneceria para sempre um mistério. Um quebra-cabeça constante e irritante.

“Você não tem ideia.”, ela disse em uma voz baixa, olhando irritada para além de mim por um momento.

As respostas dela nunca eram o que eu esperava. Elas me faziam querer perguntar mais.

“Por que você veio para cá, então?” Eu perguntei, percebendo instantaneamente que meu tom era muito acusador, sem ser casual o suficiente para a conversa. A pergunta soou rude, bisbilhoteira.

“É... complicado.”

Ela piscou seus olhos largos, deixando por isso mesmo, e eu quase implodi de curiosidade – a curiosidade queimava tão quente como a sede na minha garganta. Na verdade, eu descobri que estava se tornando um pouco mais fácil respirar; a agonia estava se tornando mais sustentável através da familiaridade.

“Eu acho que eu posso seguir.” Eu insisti. Talvez cortesia em comum a fizesse responder minhas perguntas enquanto eu fosse rude o suficiente para perguntá-las.

Ela encarou silenciosamente as suas mãos. Isso me deixou impaciente; eu queria colocar minha mão sob seu queixo e levantar a sua cabeça para que eu pudesse ler os seus olhos. Mas seria bobo para mim – perigoso – tocar a sua pele novamente.

Ela olhou para cima de repente. Foi um alívio ser capaz de ver as emoções nos olhos dela novamente. Ela falou rapidamente, se apressando entre as palavras.

“Minha mãe se casou novamente.”

Ah, isso era humano o suficiente, fácil de compreender. A tristeza passou pelos

seus olhos claros e trouxe a ruga novamente entre eles.

“Isso não soa tão complexo”. Eu disse. Minha voz era gentil sem minhas palavras serem. A sua tristeza me fez sentir estranhamente impotente, desejando que houvesse algo que eu pudesse fazer para fazê-la se sentir melhor. Um estranho impulso. “Quando isso aconteceu?”

“Setembro passado.”. Ela expirou pesadamente – não realmente um suspiro. Eu prendi minha respiração enquanto o ar morno que saia dela passava por minha pele.

“E você não gosta dele.”, eu adivinhei, pescando por mais informações.

“Não, Phil é legal.” Ela disse, corrigindo minha suposição. Havia agora a insinuação de um sorriso em torno das curvas de seus lábios cheios. “Muito novo, talvez, mas legal o suficiente.”

Isso não se encaixava com o cenário que eu estava construindo na minha cabeça.

“Por que você não ficou com eles?” eu perguntei, minha voz um pouco curiosa de mais. Parecia que eu estava sendo intrometido. O que eu estava, na verdade.

“Phil viaja muito. Ele joga bola como profissional.” O pequeno sorriso cresceu mais pronunciado; essa escolha de carreira a divertia.

Eu sorri também, sem querer. Eu não estava tentando fazê-la sentir-se aliviada.

O sorriso dela apenas me fez querer sorrir em resposta – estar por dentro do segredo.

“Já ouvi falar dele?” Eu percorri a lista de jogadores de bola profissionais na minha cabeça, me perguntando qual dos Phil seria o dela.

“Provavelmente não, ele não joga bem.” Outro sorriso. “Estritamente liga menor.

Ele se muda bastante.”

A lista em minha cabeça mudou instantaneamente, e eu fiz uma lista de possibilidades em menos de um segundo. Ao mesmo tempo, estava imaginando o novo cenário. “E sua mãe te mandou pra cá para que ela pudesse viajar com ele” eu disse.

Fazer suposições parecia tirar mais informações dela do que perguntas tiraram. E isso funcionou de novo. Seu queixo se empinou, e sua expressão estava repentinamente obstinada.

“Não, ela não me mandou pra cá,” ela disse, e sua voz tinha um novo, forte timbre. Minha suposição havia chateado-a, embora eu não pudesse ver como. “Eu me mandei.”

Eu não podia adivinhar o que isso significava, ou o motivo por trás de seu ressentimento. Eu estava completamente perdido.

Então desisti. Ela não fazia sentido. Ela não era como outros humanos. Talvez o silêncio de seus pensamentos e o perfume de seu cheiro não eram as únicas coisas incomuns sobre ela.

“Eu não entendo,” admiti, odiando fazê-lo.

Ela suspirou, e encarou meus olhos por mais tempo que a maioria dos humanos normais podia aguentar.

“Ela ficou comigo no início, mas ela sentia falta dele,” ela explicou lentamente,

seu tom crescendo mais desolado com cada palavra. “Isso a fez infeliz... então decidi que era a hora de passar mais tempo de qualidade com Charlie.”

O pequeno franzido entre seus olhos se aprofundou.

“Mas agora você está infeliz,” murmurei. Eu não conseguia parar de falar minhas hipóteses em voz alta, esperando aprender com as reações dela. Essa reação, entretanto, não pareceu muito longe da marca.

“E?” ela disse, como se isso nem fosse um aspecto a ser considerado.

Eu continuei a encarar seus olhos, sentindo que eu finalmente tinha pego meu primeiro vislumbre dentro de sua alma. Eu vi nessa única palavra aonde classificava ela mesma em uma de suas prioridades. Diferente de muitos humanos, suas próprias necessidades estavam bem no final da lista.

Ela era humilde.

Quando vi isso, o mistério da pessoa escondida dentro dessa mente quieta começou a dispersar um pouco.

“Isso não parece justo,” eu disse. Dei de ombros, tentando parecer casual, tentando esconder a intensidade da minha curiosidade.

Ela gargalhou, mas não tinha diversão no som. “Ninguém nunca te disse? A vida não é justa.”

Eu queria rir das palavras dela, embora eu, também, não tenha sentido nenhuma diversão. Eu sabia um pouco sobre a injustiça da vida. “Eu acho que já ouvi isso em algum lugar antes.”

Ela me encarou de volta, parecendo confusa de novo. Seus olhos lampejaram para longe, e depois voltaram para os meus.

“Então isso é tudo,” ela me disse.

Mas eu não estava pronto para deixar essa conversa terminar. O pequeno V entre seus olhos, uma lembrança de seu pesar, me incomodava. Eu queria suavizar isso com a ponta dos meus dedos. Porém, é claro, eu não podia tocá-la. Isso era inseguro de muitas maneiras.

“Você colocou de uma boa forma.” Eu disse lentamente, ainda considerando a próxima hipótese. “Mas eu apostaria que você está sofrendo mais do que deixa qualquer um ver.”

Ela fez uma careta, seus olhos estreitando e sua boca se retorcendo em um beicinho torto, e olhou de volta para frente da turma. Ela não gostou quando eu chutei certo. Ela não era uma vítima – ela não queria uma audiência para sua dor.

“Estou errado?”

Ela encolheu ligeiramente, contudo fingiu que não me ouviu.

Isso me fez sorrir. “Acho que não.”   “Por que isso importa pra você?” ela questionou, ainda encarando longe.

“Essa é uma boa pergunta,” admiti, mais para mim do que para respondê-la.

O discernimento dela era melhor que o meu – ela viu diretamente o núcleo das coisas enquanto eu debatia ao redor das bordas, procurando cegamente por ideias. Os detalhes da vida humana dela não importavam para mim. Era errado para mim me importar com o que ela pensava. Além de proteger minha família de suspeitas, pensamentos humanos não eram significantes.

Eu não estava acostumado a ser o menos intuitivo em qualquer dupla. Eu confiei em minha audição extra demais – claramente eu não era tão perceptivo quanto eu tinha dado crédito a mim mesmo.

A garota suspirou e olhou descontente para frente da classe. Algo sobre sua expressão frustrada era cômico. A situação toda, a conversa inteira era cômica. Ninguém tinha estado em mais perigo comigo que essa garotinha – a qualquer momento eu posso, distraído pela minha ridícula absorção nessa conversa, inalar pelo meu nariz e atacá-la antes de conseguir parar a mim mesmo – e ela estava irritada porque eu não havia respondido sua pergunta.

“Estou te perturbando?” eu perguntei, sorrindo com o absurdo disso tudo.

Ela me olhou rapidamente, e então seus olhos pareceram ser trapaceados pelo meu olhar.

“Não exatamente,” ela me disse. “Estou mais perturbada comigo mesma. Meu rosto é tão fácil de ler – minha mãe sempre me chamou de livro aberto.”

Ela franziu o cenho, insatisfeita.

Eu a encarei com espanto. A razão porque ela estava chateada era porque ela achava que eu tinha visto por ela muito facilmente. Que bizarro. Eu nunca gastei tantos esforços para entender alguém em toda a minha vida – ou ao menos existência, já que vida era dificilmente a palavra correta. Eu não tinha realmente uma vida.

“Ao contrário,” discordei, sentindo-me estranhamente... cauteloso, como se houvesse algum perigo escondido que eu estivesse falhando em ver. Eu estava subitamente na borda, a premonição me tornando ansioso. “Eu acho você muito difícil de ler.”

“Você deve ser um bom leitor, então,” ela deduziu, fazendo sua própria hipótese que estava, de novo, exatamente certo.

“Normalmente sim,” concordei.

Eu sorri abertamente para ela então, deixando meus lábios puxados para expor a fileira de brilhantes, afiados dentes por trás deles.

Era algo estúpido de se fazer, mas eu estava abruptamente, inesperadamente desesperado para conseguir algum tipo de advertência vindo da garota. O corpo dela estava próximo de mim antes, tendo se movido inconscientemente no curso de nossa conversa. Todas as pequenas marcas e sinais que eram suficientes para assustar o resto da humanidade não pareciam funcionar nela. Por que ela não se encolheu para longe de mim em pânico? Certamente ela havia visto suficiente o meu lado negro para perceber o perigo, intuitiva como ela parecia ser.

Não consegui ver se meu aviso teve o efeito desejado. Mr. Banner chamou a atenção da classe na hora, e ela se virou de imediato. Ela parecia um pouco aliviada pela interrupção, então talvez ela tenha entendido inconscientemente.

Eu esperava que ela tivesse entendido.

Eu reconheci a fascinação crescendo dentro de mim, mesmo que eu tentasse destruí-la. Eu não podia arriscar achar Bella Swan interessante. Ou ainda, ela não podia arriscar isso. Eu já estava ansioso por uma outra chance de conversar com ela. Eu queria saber mais sobre sua mãe, sua vida antes de vir para cá, seu relacionamento com o pai.

Todos os detalhes sem importância que alimentariam sua personalidade ainda mais. Mas cada segundo que eu passava com ela era um erro, um risco que ela não deveria ter.

Distraidamente, ela lançou seu cabelo volumoso exatamente no momento em que me permiti respirar. Uma onda particularmente concentrada de seu cheiro bateu no fundo da minha garganta.

Era como o primeiro dia – como a bola destruidora. A dor da secura ardente me deixou tonto, eu tive que agarrar a mesa de novo para me manter sentado. Dessa vez eu tinha ligeiramente mais controle. Não quebrei nada, pelo menos. O monstro rosnou dentro de mim, mas não sentiu nenhum prazer com minha dor. Ele estava fortemente amarrado. Por enquanto.

Eu parei de respirar completamente, e me inclinei tão longe da garota quanto pude.

Não, eu não podia arriscar achá-la fascinante. Quanto mais interessante eu a achasse, mais provavelmente eu a mataria. Eu já havia tido duas escorregadas menores hoje. Eu teria uma terceira, uma que não fosse menor?

Tão cedo quanto o sinal tocou, fugi da sala – provavelmente destruindo qualquer impressão de educação que eu havia meramente construído durante a hora. De novo, eu arfei no ar limpo e molhado do lado de fora, como se fosse uma fragrância curativa. Eu me aprecei para colocar tanta distância entre a garota e eu quanto fosse possível. Emmett esperou por mim do lado de fora da porta de nossa aula de Espanhol. Ele leu minha expressão selvagem por um momento.

“Como foi?” Ele perguntou cautelosamente.

“Ninguém morreu,” eu sussurrei.

Eu acho que isso já é alguma coisa. Quando vi Alice abandonando a aula no final, eu pensei...

Enquanto andávamos para dentro da sala, eu vi as suas memórias de apenas alguns momentos atrás, vendo pela porta aberta de sua última aula: Alice andando ativamente e pálida ao longo do chão na direção do prédio de ciências. Eu senti a lembrada urgência dele de levantar e se juntar a ela, e então sua decisão de ficar. Se Alice precisasse de sua ajuda, ela pediria...

Fechei meus olhos com horror e desgosto enquanto despencava em meu assento.

“Eu não percebi que tinha sido assim tão perto. Eu não pensei que eu fosse... não vi que era assim tão ruim,” eu sussurrei.

“Não foi, ele me assegurou. Ninguém morreu, certo?”

“Certo,” eu disse entre dentes. “Não dessa vez.”

Talvez isso fique mais fácil.

“Claro.”

“Ou, talvez você a mate.” Ele deu de ombros. “Você não seria o primeiro a errar.

Ninguém te julgaria tão severamente. Às vezes uma pessoa só cheira muito bem. Estou impressionado que você tenha aguentado tanto.”

“Não está ajudando, Emmett.”

Eu estava revoltado com a aceitação dele da ideia de que eu mataria a garota, que isso era de alguma forma inevitável. Era culpa dela que ela cheirasse tão bem?

Eu sei quando isso aconteceu comigo... , ele remanesceu, me levando com ele para meio século atrás, para um caminho na poeira, onde uma mulher de meia –idade estava tirando seus lençóis secos de uma linha pendurada entre macieiras. O cheiro de maçãs pendeu pesado no ar – a colheita tinha acabado e as frutas rejeitadas estavam espalhadas no chão, as batidas em suas peles derramando sua fragrância em nuvens volumosas. A grama recém-aparada era um fundo para esse cheiro, uma harmonia. Ele andou pelo caminho, não mais que inconsciente para a mulher, em uma incumbência para Rosalie. O céu estava roxo em cima da cabeça, laranja em cima das árvores a
oeste. Ele continuaria pela trilha serpenteante e não teria havido razão para lembrar daquela noite, exceto que uma súbita brisa noturna soprou os lençóis brancos como velas e abanou o cheiro da mulher para o rosto de Emmett.

“Ah,” grunhi silenciosamente. Como se minha própria memória de sede não fosse suficiente.

“Eu sei. Não durei meio segundo. Eu nem pensei em resistir.”

A memória dele se tornou extremamente explicita para mim para aguentar.

Pulei para meus pés, meus dentes cerrados fortes o suficiente para quebrar aço.

“Esta bien, Edward?” Senora Goff perguntou, assustada com meu movimento

súbito. Eu pude ver meu rosto na mente dela, e eu sabia que parecia longe de estar bem.

“Me perdona,” murmurei, enquanto disparava para a porta.

“Emmett – por favor, puedas tu ayudar a tu hermano?” ela perguntou, gesticulando desamparadamente em minha direção enquanto eu corria para fora da sala.

“Claro,” o ouvi dizer. E então ele estava bem atrás de mim.

Ele me seguiu até o lado mais distante do prédio, quando me alcançou e colocou sua mão em meus ombros.

Eu empurrei a mão dele para longe com força desnecessária. Isso teria estilhaçado os ossos em uma mão humana, e os ossos do braço unidos a ela.

“Desculpe, Edward.”

“Eu sei.” Eu respirei em profundas arfadas de ar, tentando limpar minha cabeça e meus pulmões.

“Isso é tão ruim quanto aquilo?” ele perguntou, tentando não pensar no cheiro e no sabor de sua memória enquanto perguntava, e não tendo sucesso.

“Pior, Emmett, pior.”

Ele estava quieto por um momento.

“Talvez...”

“Não, não seria melhor se eu terminasse com isso. Volte para a sala, Emmett. Eu quero ficar sozinho.”

Ele se virou sem mais uma palavra ou pensamento e caminho rapidamente para longe. Ele diria para a professora de Espanhol que eu estava doente, ou cabulando, ou que era um vampiro perigosamente fora de controle. A desculpa dele realmente importava? Talvez eu não voltasse. Talvez eu tivesse que partir.

Eu fui pro meu carro de novo, para esperar as aulas terminarem. Para me esconder. De novo.

Eu devia ter passado o tempo tomando decisões ou tentando apoiar minha solução, mas, como um viciado, me vi procurando entre a tagarelice de pensamentos emanando dos prédios da escola. As vozes familiares se destacaram, mas eu não estava interessando em ouvir as visões de Alice ou as reclamações de Rosalie agora. Eu encontrei Jessica facilmente, mas a garota não estava com ela, então continuei a procurar. Os pensamentos de Mike Newton prenderam minha atenção, e eu a localizei, no ginásio com ele. Ele estava infeliz, porque eu havia falado com ela hoje em biologia.

Ele estava revendo a resposta dela quando levantou o assunto...

“Eu nunca o vi realmente falar com alguém por mais de uma palavra aqui ou ali. É claro que ele decidiria achar Bella interessante. Eu não gosto da forma como ele olha para ela. Mas ela não pareceu muito ansiosa sobre ele. O que ela disse?” “Me pergunto o que aconteceu com ele na última segunda -feira.” Algo assim. Não parecia como se ela se importasse. Não deve ter sido exatamente uma conversa...

Ele falou consigo mesmo sobre seu pessimismo e seguiu assim, animado com a ideia de que Bella não tenha ficado interessada na discussão comigo. Isso me irritou um pouco mais que o aceitável, então parei de ouvi-lo.

Eu coloquei um CD de musica violenta no aparelho de som, e então aumentei o som até isso absorver outras vozes. Eu tive que me concentrar na música para evitar de ser levado de volta para os pensamentos de Mike Newton, para espiar a garota insuspeitável...

Eu trapaceei algumas vezes, enquanto a hora se aproximava do fim. Não espiando, tentei me convencer. Eu só estava preparando. Eu queria saber exatamente quando ela sairia do ginásio, quando ela estaria no estacionamento. Eu não queria que ela me pegasse de surpresa.

Como os estudantes começaram a sair das portas do ginásio, eu sai do carro, incerto do porque fiz isso. A chuva era leve – eu a ignorei como ela lentamente saturava meu cabelo.

Será que eu queria que ela me visse aqui? Será que eu esperava que ela viesse falar comigo? O que eu estava fazendo?

Não me movi, embora eu tenha tentado me convencer de entrar de volta no carro, sabendo que meu comportamento era repreensível. Eu mantive meus braços cruzados sobre meu peito e respirei superficialmente enquanto a via caminhar lentamente em minha direção, sua boca se curvando para baixo. Ela não olhou pra mim.

Algumas vezes ela olhou para as nuvens com uma careta, como se elas a ofendessem.

Eu estava desapontado quando ela alcançou seu carro antes de passar por mim.

Ela teria falado comigo? Eu teria falado com ela?

Ela entrou em uma picape Chevy apagada, uma monstruosidade enferrujada que era mais velha que o pai dela. Eu vi ela ligar a picape – o velho motor roncou mais alto que qualquer veiculo no lugar – e então estender seus braços para a ventilação aquecedora. O frio era desconfortável para ela – ela não gostava disso. Ela passou os dedos pelo cabelo, puxando mexas pela corrente de ar quente como se estivesse tentando secá-las. Eu imaginei como a cabine daquela picape devia cheirar, e então rapidamente dispersei o pensamento.

Ela olhou em volta enquanto se preparava para dar ré, e então finalmente olhou na minha direção. Ela me encarou de volta por somente meio segundo, e tudo o que eu pude ler em seus olhos era surpresa antes de ela arrancar seus olhos para longe e mover a picape para trás. E então sequencialmente parar de novo, a traseira da picape quase batendo no carro de Brian Teague por meros centímetros.

Ela encarou pelo retrovisor, a boca aberta de desgosto. Quando o outro carro que havia manobrado passou por ela, ela checou todos os pontos cegos duas vezes e então avançou lentamente para fora do estacionamento, tão cuidadosamente que me fez rir.

Era como se ela achasse que era perigosa em sua picape decrépita.

A ideia de Bella Swan sendo perigosa para qualquer um, não importando o que ela estivesse dirigindo, me fez gargalhar enquanto a garota passou por mim, encarando rigorosamente a sua frente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário