sábado, 22 de dezembro de 2012

Sol da Meia Noite - Capitulo 1


Capítulo 01 - À primeira vista
 

Esse era o momento do dia em que eu queria ser capaz de dormir.

Ensino Médio.

Ou era purgatório a palavra correta? Se houvesse alguma maneira de reparar meus pecados, isso deveria contar de alguma forma na balança. O tédio não foi algo ao qual eu me acostumei; cada dia parecia impossivelmente mais monótono que o anterior.

Eu acredito que essa era minha maneira de dormir – se dormir era definido pelo estado inerte entre os períodos de atividade.

Eu encarei as rachaduras correndo pelo concreto no canto mais distante do

refeitório, imaginando padrões entre eles que não estavam lá. Era uma forma de desconectar as vozes que tagarelavam como o jorro de um rio dentro de minha cabeça.

Muitas centenas dessas vozes que eu ignorava no tédio.

Quando se tratava de mentes humanas, eu já tinha ouvido de tudo e mais um pouco. Hoje, todos os pensamentos estavam voltados para o espetáculo trivial da nova adição ao pequeno corpo estudantil daqui. Não demorou muito ouvi -los todos. Eu tinha visto o mesmo rosto repetido em mente após mente sob todos os ângulos. Só uma garota humana normal. A excitação de sua chegada era cansativamente previsível – como mostrar um objeto brilhante a uma criança. Metade do rebanho masculino já se imaginava se apaixonando por ela, só porque ela era algo novo para se olhar. Eu tentei veementemente calá-los.

Só quatro vozes eu bloqueava por cortesia muito mais do que por desgosto: minha família, meus dois irmãos e duas irmãs, tão acostumados com a falta de privacidade na minha presença que raramente se importavam. Eu dei a eles toda a privacidade que pude. Tentei não ouvir se eu podia.

Tentei como pude, mesmo assim... eu sabia.

Rosalie estava pensando, como de costume, sobre ela mesma. Ela viu seu perfil no reflexo do copo de alguém, e estava meditando sobre sua própria perfeição. A mente de Rosalie era uma piscina rasa com poucas surpresas.

Emmett estava fulminando por causa de uma queda de braço que havia perdido para Jasper durante a noite. Isso tomaria dele toda a sua limitada paciência para aguentar até o final do dia escolar e orquestrar uma revanche. Eu nunca realmente me

senti intrometido ouvindo os pensamentos de Emmett, porque ele nunca pensou em algo que ele não diria em voz alta ou não colocaria em pratica. Talvez eu só me sentisse culpado por ouvir os pensamentos dos outros porque eu sabia que haviam coisas lá que eles não queriam que eu soubesse. Se a mente de Rosalie era uma piscina rasa, a de Emmett era um lago sem sombras, clara como vidro.

E Jasper estava... sofrendo. Eu suprimi um suspiro.

"Edward." Alice chamou meu nome em sua cabeça, e teve minha atenção imediata.

Era como ter meu nome chamado em voz alta. Eu estava feliz que meu nome tinha saído de moda atualmente – tinha sido irritante; em qualquer momento, quando qualquer um pensava em qualquer  Edward minha cabeça se virava automaticamente...

Minha cabeça não virou agora. Alice e eu éramos bons nessas conversas privadas. Era raro qualquer um nos pegar. Eu mantive meus olhos nas linhas do concreto.

"Como ele está aguentando?" ela me perguntou.

Eu contraí um pouco meus músculos, só uma pequena mudança com minha boca.

Nada que chamasse a atenção dos outros. Eu poderia facilmente estar me contraindo de tédio.

O tom mental de Alice estava alarmado agora, e eu vi em sua mente que ela estava olhando para Jasper em sua visão periférica." Existe algum perigo? "Ela procurou,

num futuro imediato, mergulhando por visões de monotonia para a fonte da minha expressão.

Eu virei minha cabeça para a esquerda devagar, como se estivesse olhando para os tijolos da parede, suspirei, e então para a direita, de volta para as rachaduras no teto. Só Alice sabia que eu estava balançando a cabeça.

Ela relaxou. "Me deixe saber se isso ficar muito ruim."

Eu só movi meus olhos, para o teto acima, e de volta para baixo.

"Obrigada por estar fazendo isso."

Eu estava feliz por não poder respondê -la em voz alta. O que eu diria? “O prazer foi meu?” Não era assim . Eu não gostava de ouvir Jasper relutante. Era mesmo necessário fazer experiências assim? Não seria o melhor caminho admitir que ele nunca será capaz de agüentar a sede como o resto de nós pode, e não forçar seus limites? Por que flertar com o desastre?

Tinham se passado duas semanas desde nossa ultima viagem de caça. Esse tempo não era uma imensa dificuldade para o resto de nós. Um pouco desconfortável ocasionalmente – se um humano andasse muito próximo, se o vento soprasse na direção errada. Mas humanos raramente se aproximavam. Seus instintos diziam a eles o que suas mentes conscientes nunca entenderiam: nós éramos perigosos.

Jasper estava muito perigoso agora.

Nesse momento, uma pequena garota parou no final da mesa mais próxima da nossa, para conversar com uma amiga. Ela jogou seu cabelo curto, cor de areia, passando os dedos por ele. Os aquecedores sopraram seu cheiro para nossa direção. Eu

estava acostumado com a maneira com a qual o cheiro me fazia sentir – a dor seca na minha garganta, o anseio vazio no meu estomago, a contração automática dos meus músculos, o excesso de veneno fluindo na minha boca...

Isso era tudo bem normal, geralmente fácil de ignorar. Só foi difícil agora, com os sentimentos fortes, dobrados, enquanto eu monitorava a reação de Jasper. Sedes gêmeas, não somente a minha.

Jasper estava deixando sua imaginação passear. Ele estava imaginando isso – imaginando si mesmo levantando de seu assento próximo de Alice e ficando ao lado da pequena garota. Pensando em se inclinar para baixo, como se fosse sussurrar em seu ouvido, e deixando seus lábios tocarem a curva da garganta dela. Imaginando como a sensação do fluido quente do pulso dela por baixo da fina camada de pele seria em baixo

da sua boca.

Eu chutei a cadeira dele.

Ele encontrou meu olhar por um minuto, e depois olhou para baixo. Eu podia ouvir vergonha e rebeldia em guerra na sua mente.

“Desculpe”, Jasper murmurou.

Dei de ombros.

“Você não ia fazer nada”, Alice murmurou para ele, amenizando seu embaraço.“Eu podia ver isso.”

Eu lutei contra a careta que denunciaria sua mentira. Nós tínhamos que oprmanecer  juntos, Alice e eu. Não era fácil, ouvir vozes ou ver cenas do futuro. As duas aberrações entre aqueles que já eram aberrações. Nós protegíamos o segredo um do outro.

“Ajuda um pouco se você pensar neles como pessoas”, Alice sugeriu, sua voz alta e musical, rápida demais para ouvidos humanos entenderem, se algum estivesse próximo demais para ouvir. “O nome dela é Witney, ela tem uma irmãzinha bebe que ela adora. A mãe dela convidou Esme para essa festa no jardim, se lembra?”

“Eu sei quem ela é.” Jasper disse curtamente. Ele se virou para olhar por uma das pequenas janelas que eram colocadas bem embaixo das vigas, ao longo da sala. Seu tom terminou a conversa.

Ele teria que caçar hoje a noite. Era ridículo se arriscar assim, tentando testar sua força, aumentar sua resistência. Jasper devia apenas aceitar suas limitações e trabalhar com elas. Seus hábitos antigos não condiziam com nosso estilo de vida escolhido; ele não devia se esforçar tanto desse jeito.

Alice suspirou silenciosamente e levantou, pegando sua bandeja de comida – seu acessório, era o que era – com ela e deixando-o sozinho. Ela sabia quando ele estava cheio de seu encorajamento. Apesar de Rosalie e Emmett serem mais abertos com seu relacionamento, eram Alice e Jasper que sabiam o humor um do outro como seu próprio.

Como se eles também pudessem ler mentes – apenas um do outro.

"Edward Cullen."

Reação de reflexo. Eu me virei para o som do meu nome sendo chamado, apesar de não estar realmente sendo chamado, só pensado.

Meus olhos se encontraram por uma fração de segundo com um grande par de olhos humanos, cor-de-chocolate postos num rosto pálido, em forma de coração. Eu conhecia esse rosto, apesar de eu mesmo nunca tê-lo visto antes. Ele esteve em quase todas as cabeças humanas hoje. A nova aluna, Isabella Swan. Filha do chefe de policia da cidade, trazida para viver aqui sob uma nova situação de custódia. Bella. Ela corrigiu todos que usaram seu nome inteiro...

Olhei para longe, entediado. Me levou um segundo para perceber que não havia sido ela quem pensou no meu nome.

"É claro que ela já está se apaixonando pelos Cullen", eu ouvi o primeiro pensamento continuar.

Agora reconheci a “voz”. Jessica Stanley – havia um tempo desde a última vez que ela me perturbou com seu bate -papo interior. Foi um alívio quando ela se curou daquela paixonite deslocada. Era praticamente impossível escapar de suas fantasias constantes, ridículas. Eu desejei, naquela época, que eu pudesse explicar exatamente o que haveria acontecido se meus lábios, e os dentes atrás deles, tivessem chegado a qualquer parte próxima dela. Isso teria silenciado aquelas fantasias irritantes. O pensamento da reação dela quase me fez sorrir.

"Grande bem isso vai fazer a ela", Jessica continuou.           "Ela sequer é bonita. Eu não sei porque Erick está olhando... ou Mike."

Ela estremeceu mentalmente no ultimo nome. Sua nova paixonite, o genericamente popular Mike Newton, era completamente inconsciente dela.

Aparentemente, ele não era tão inconsciente sobre a nova garota. Como a criança com o objeto brilhante de novo. Isso trouxe uma ponta maligna nos pensamentos de Jessica, apesar de ela ser aparentemente cordial com a recém-chegada enquanto explicava para ela o conhecimento comum sobre minha família. A estudante nova deve ter perguntado sobre nós.

"Todo mundo também está olhando pra mim hoje", Jessica pensou

presumidamente por um lado. "Foi uma sorte Bella ter tido duas aulas comigo hoje...Aposto que Mike vai querer me perguntar o que ela" – Eu tentei bloquear o pensamento insignificante pra fora da minha cabeça antes que a insignificância pudesse me deixar louco.

“Jessica Stanley está dando para a nova garota Swan toda a roupa suja sobre o clã dos Cullen,” eu murmurei para Emmett como distração . Ele riu por baixo da respiração. "Eu espero que ela esteja fazendo isso direito", ele pensou.

“Muito sem criatividade, na verdade. Só a ideia superficial do escândalo. Nem um pingo de horror. Estou um pouco desapontado.”

"E a garota nova? Ela está desapontada com a fofoca também?"

Eu parei para ouvir o que essa garota nova, Bella, pensou sobre a história de Jessica. O que ela via quando olhava para essa família estranha, com peles pálidas, que era universalmente evitada?

Era parte da minha responsabilidade saber sua reação. Eu agia como um observador, pela falta de uma palavra melhor, para a minha família. Para proteger -nos.

Se qualquer um começasse a suspeitar, eu poderia dar um aviso prévio e uma solução fácil. Isso acontecia ocasionalmente – algum humano com uma imaginação ativa veria em nós os personagens de um livro ou filme. Geralmente eles interpretam errado, mas é melhor mudar para um lugar novo do que arriscarmos um exame minucioso. Muito, muito raramente, alguém adivinhava corretamente. Nós não damos a eles a chance de

testarem suas hipóteses. Nós simplesmente desaparecemos, para nos tornarmos nada mais que uma memória assustadora...

Eu não ouvi nada, embora eu tenha ouvido próximo aonde o frívolo monólogo interno de Jessica continuava efusivamente. Era como se não houvesse ninguém sentado ao lado dela. Que peculiar, será que a garota tinha ido embora? Não parecia ser isso, já que Jessica continuava tagarelando para ela. Olhei pra cima para checar, me sentindo desequilibrado. Checar o que minha “audição” extra podia me dizer – era algo que eu nunca tive que fazer.

De novo meu olhar se encontrou com aqueles mesmos olhos grandes e castanhos.

Ela estava sentada exatamente onde esteve antes, e olhando para nós, uma coisa natural de se fazer, eu supus, já que Jessica continuava entretendo -a com as fofocas locais sobre os Cullens.

Pensar em nós, também, seria natural.

Mas eu não conseguia ouvir um sussurro.

Um vermelho convidativo e quente coloriu suas bochechas quando ela olhou para baixo, longe da gafe embaraçosa de ser pega encarando um estranho. Foi bom que Jasper ainda estivesse olhando para fora da janela. Eu não gostava de imaginar o que esse fácil agrupamento de sangue faria com seu controle.

As emoções estavam tão claras no seu rosto como se estivessem saindo em palavras de sua testa: surpresa, como se inconscientemente ela absorvesse os sinais das diferenças entre sua raça e a minha, curiosidade, ouvindo o conto de Jessica, e algo mais... fascinação? Não seria a primeira vez. Nós éramos lindos para eles, nossas presas.

Então, finalmente, embaraço, quando eu a peguei me encarando. Ainda assim, embora seus pensamentos tenham sido tão claros em seus olhos estranhos – estranhos por causa da intensidade deles; olhos castanhos normalmente parecem rasos em sua escuridão – eu não podia ouvir nada além de silêncio do lugar em que ela estava sentada.

Absolutamente nada.

Eu senti um momento de inquietação.

Isso era algo que eu nunca tinha encontrado antes. Tinha algo errado comigo? Eu senti exatamente como sempre me sentia. Preocupado, escutei melhor.

Todas as vozes que eu havia bloqueado de repente estavam gritando em minha cabeça.

"... me pergunto que tipo de música ela gosta... talvez eu possa mencionar aquele novo CD... "Mike Newton estava pensando, a duas mesas de distância – fixado em Bela Swan.

"Olhe para ele a encarando. Não é suficiente que ele tenha metade das garotas da escola esperando por ele para..." Eric Yorkie pensava acidamente, também relacionado a garota.

"...tão nojento. Dava pra pensar que ela é famosa ou algo assim... Até Edward Cullen, encarando... " Lauren Mallory estava tão enciumada que seu rosto, de todas as

maneiras, deveria estar escurecido como cor de jade. E Jessica, exibindo sua nova amiga. "Que piada..."veneno continuou a ser expelido dos pensamentos da garota.

"...aposto que todo mundo perguntou isso pra ela. Mas eu gostaria de conversar com ela. Vou pensar em uma pergunta mais original..." Ashley Dowling meditou.

"...talvez ela esteja em minha aula de Espanhol..." June Richardson desejou.

"...toneladas restam pra fazer essa noite! Trigonometria, e o teste de Inglês. Eu espero que minha mãe..." Angela Weber, uma menina quieta, de quem os pensamentos eram extraordinariamente doces, era a única naquela mesa que não estava obcecada

com essa tal Bella.

Eu podia ouvir todos eles, ouvir cada coisa insignificante que eles pensavam assim que passava por suas cabeças. Mas absolutamente nada da nova estudante com olhos

enganosamente comunicativos.

E, obviamente, eu pude ouvir o que ela disse quando falou com Jessica. Eu não precisava ler mentes para poder ouvir sua voz baixa e clara do outro lado do refeitório.

"Qual deles é o garoto com o cabelo castanho avermelhado?" Eu a ouvi perguntar, olhando pra mim furtivamente pelo canto dos olhos, só para rapidamente olhar para longe quando ela viu que eu continuava encarando.

Se eu tivesse tempo de esperar que ouvir o som de sua voz me ajudaria a determinar o tom de seus pensamentos, perdidos em algum lugar onde eu não podia os acessar, eu estava instantaneamente desapontado. Normalmente, os pensamentos das

pessoas surgem com um tom similar as suas vozes físicas. Mas essa voz calma e tímida não era familiar, não uma nas centenas de vozes tagarelando em volta do local, isso eu tinha certeza. Era inteiramente nova.

"Oh, boa sorte idiota!" Jessica pensou antes de responder a pergunta da garota.

“Esse é o Edward. Ele é lindo, é claro, mas não perca seu tempo. Ele não namora.Aparentemente nenhuma das garotas aqui é bonita o suficiente para ele.” Ela fungou.

Eu virei minha cabeça para o outro lado, para esconder meu sorriso. Jéssica e suas amigas de sala não tinham ideia de como eram sortudas por nenhuma delas ser particularmente apelativa pra mim.

Por baixo do humor passageiro, eu senti um impulso estranho, um que eu não entendi claramente. Isso tinha algo a ver com o abismo vicioso dos pensamentos de Jessica, dos quais a nova garota era inconsciente... Eu senti uma estranha urgência de me colocar entre elas, para proteger essa Bella Swan dos trabalhos obscuros da mente de Jessica. Que coisa estranha para se sentir. Tentando descobrir as motivações por trás do impulso, eu examinei a garota mais uma vez.

Talvez isso era só um instinto de proteção há muito enterrado – o forte pelo fraco. Essa garota parecia mais frágil que seus novos colegas de classe. Sua pele era tão translúcida que era difícil de acreditar que isso oferecia a ela alguma defesa contra mundo exterior. Eu podia ver o pulsar ritmado do sangue através de suas veias, por baixo da membrana clara e pálida... Mas eu não devia me concentrar nisso. Eu era bom nessa vida que escolhi, mas eu estava com tanta sede quanto Jasper e não havia motivo para convidar a tentação.

Tinha uma fraca linha entre suas sobrancelhas a qual ela parecia não tomar conhecimento.

Era inacreditavelmente frustrante! Eu podia ver claramente que era desconfortável para ela sentar lá, conversar com estranhos, ser o centro das atenções.

Eu podia sentir sua timidez pela forma como ela segurava seus ombros aparentemente frágeis, espremida, como se ela estivesse esperando uma rejeição a qualquer momento.

E ainda assim, eu só podia sentir, só podia ver, só podia imaginar. Não tinha nada além do silêncio vindo dessa garota humana normal. Eu não pude ouvir nada. Por quê?

“Vamos?” Rosalie murmurou, interrompendo meu foco.

Eu desviei o olhar da garota com um sentimento de alivio. Eu não queria continuar falhando nisso –isso me irritou. E eu não queria desenvolver qualquer interesse em seus pensamentos secretos simplesmente porque eles estavam escondidos de mim.

Sem duvida, quando eu decifrasse seus pensamentos – e eu iria encontrar uma maneira de fazê-lo – eles seriam tão insignificantes e mesquinhos como os pensamentos de qualquer humano. Não valiam o esforço que eu teria que fazer para alcançá-los.

“Então, a novata já está com medo de nós?” Emmett perguntou, ainda esperando pela minha resposta para a sua pergunta anterior.

Eu dei de ombros. Ele não estava interessado o suficiente para me pressionar por mais informação. Eu também não deveria estar. Nós nos levantamos da mesa e saímos do refeitório.

Emmett, Rosalie e Jasper fingiam serem veteranos; eles saíram para suas aulas.

Eu fui para minha aula de Biologia do segundo ano, preparando minha mente para o tédio. Era duvidoso que Mr. Banner, um homem sem muito mais que um intelecto comum, tiraria alguma coisa de sua aula que impressionasse alguém com dois diplomas em medicina.

Na sala de aula, eu sentei na minha cadeira e deixei meus livros – acessórios, de novo; eles não tinham nada que eu já não soubesse – espalhados pela mesa. Eu era o único estudante que tinha uma mesa só pra mim. Os humanos não eram espertos o suficiente para saberem que eles me temiam, mas seus instintos de sobrevivência eram o suficiente para mantê-los afastados.

A sala foi enchendo lentamente, enquanto eles voltavam do almoço. Me inclinei novamente na minha cadeira e esperei o tempo passar. De novo desejei que eu fosse capaz de dormir.

"Porque andei pensando nela", quando Angela Weber escoltou a nova garota pela porta," o nome dela chamou minha atenção.

Bella parece tão tímida quanto eu. Aposto que hoje é bem difícil pra ela. Eu queria poder dizer algo... mas isso provavelmente soaria estúpido..."

"Isso!" Mike Newton pensou, virando -se na sua cadeira para ver as meninas entrarem.

Ainda assim, do lugar onde Bella Swan parou, nada. O lugar vazio onde seus pensamentos deveriam estar me deixou irritado e enervado.

Ela se aproximou, caminhando pelo espaço ao meu lado para chegar a mesa do professor. Pobre garota; o assento ao meu lado era o único vago. Automaticamente, eu limpei o que seria o lado dela da mesa, colocando meus livros em pilha. Eu duvidava que ela se sentiria confortável ali. Seria um longo semestre para ela – naquela aula, pelo menos. Talvez, entretanto, sentando ao lado dela eu conseguiria descobrir seus segredos... não que eu tenha precisado de tanta proximidade antes... não que eu fosse encontrar algo que valesse a pena ouvir... Bella Swan andou pela brisa de ar quente que vinha do aquecedor na minha direção.O cheiro dela me acertou como uma bola, como um taco. Não tinha uma imagem violenta o suficiente para resumir a força do que aconteceu comigo naquele momento.

Naquele momento, eu não estava nada perto do humano que um dia eu fui; nem traço do pouco de humanidade que eu usava como máscara para me lembrar.

Eu era um predador. Ela era minha presa. Não existia nada mais no mundo inteiro além desse fato.

Não tinha uma sala cheia de testemunhas – eles já eram um dano colateral na minha mente. O mistério dos pensamentos dela foi esquecido. Seus pensamentos não significavam nada, afinal ela não continuaria pensando neles por muito tempo.

Eu era um vampiro, e ela tinha o sangue mais doce que eu havia cheirado em oitenta anos.

Eu nunca imaginei que um cheiro como esse poderia existir. Se eu soubesse que podia, eu teria procurado por isso há muito tempo. Eu teria passado um pente fino no planeta por ela. Eu podia imaginar o gosto... A sede queimou minha garganta como fogo. Minha boca estava ressecada e desidratada. A onda fresca de veneno não fez nada para dissipar essa sensação. Meu estomago retorceu com a fome que era um eco da sede. Meus músculos se contraíram.

Nem um segundo inteiro tinha se passado. Ela ainda estava dando o mesmo passo que a tinha colocado na brisa em minha direção.

Quando o pé dela tocou o chão, seus olhos viraram para mim, um movimento que ela claramente queria que fosse furtivo. Seu olhar encontrou o meu, e eu me vi refletido no vasto espelho dos olhos dela.

O choque do rosto que eu vi ali salvou sua vida por mais alguns duros momentos.

Ela não tornou isso fácil. Quando ela processou a expressão no meu rosto, sangue enrubesceu suas bochechas de novo, tornando a pele dela a cor mais deliciosa que eu já tinha visto. O cheiro era uma neblina grossa no meu cérebro. Eu dificilmente conseguia pensar além disso. Meus pensamentos se enfureciam, resistindo ao controle, incoerentes.

Ela andou mais apressadamente agora, como se entendesse a necessidade de escapar. Sua pressa a tornou desastrada – ela tropeçou e cambaleou para frente, quase caindo na garota sentada na minha frente. Vulnerável, fraca. Até mais que o normal para um humano.

Eu tentei me focar no rosto que vi nos olhos dela, um rosto que eu reconheci com repulsa. O rosto do monstro em mim – o rosto que eu combati durante décadas de esforço e disciplina rígida. Qual fácil ele reapareceu na superfície agora!

O cheiro me rondou novamente, dispersando meus pensamentos e quase me impelindo da cadeira.

Não.

Minha mão se apertou na beira da mesa, enquanto eu tentava me prender na cadeira. A madeira não servia para a tarefa. Minha mão quebrou a estrutura e escorregou, cheia de restos de lascas, deixando as marcas dos meus dedos cravados na madeira.

Destruir as evidências. Essa era uma regra fundamental. Eu pulverizei rapidamente as bordas com a ponta dos meus dedos, não deixando nada além de um buraco raivoso e uma pilha de lascas no chão, que eu escondi com o pé.

Destruir evidências. Dano colateral...

Eu sabia o que tinha que acontecer agora. A garota viria sentar-se ao meu lado e eu teria que a matar.

Os espectadores inocentes da classe, dezoito outras crianças e um homem, não poderiam deixar essa sala, tendo visto o que eles logo veriam.

Eu estarreci no pensamento do que eu deveria fazer. Mesmo no meu pior momento, eu nunca tinha cometido esse tipo de atrocidade. Eu nunca matei inocentes nessas oito décadas. E agora eu planejava assassinar vinte deles de uma só vez.

O rosto do monstro no espelho riu de mim.

Mesmo que parte de mim estremecesse afastando-se do monstro, outra parte estava planejando isso.

Se eu matasse a garota primeiro, eu teria apenas quinze ou vinte segundos com ela antes que os humanos na sala reagissem. Talvez um pouco mais, se eles não percebessem de primeira o que eu estava fazendo. Ela não teria tempo para gritar ou sentir dor; eu não a mataria cruelmente. Era o mínimo que eu podia dar a essa estranha com o sangue horrivelmente desejável.

Mas depois eu teria que impedi-los de escapar. Eu não teria que me preocupar com as janelas, muito altas e pequenas para servir de escape para alguém. Só a porta – bloqueio isso e eles estariam presos.

Seria mais devagar e difícil tentar matá-los quando eles estariam em pânico e se misturando, se movendo no caos. Não era impossível, mas haveria muito mais barulho.

Tempo para muitos gritos. Alguém ouvira... e eu seria forçado a matar ainda mais inocentes nesse momento obscuro.

E o sangue dela esfriaria, enquanto eu matava os outros.

O cheiro me puniu, fechando minha garganta com a dor secante.

Então as testemunhas primeiro.

Eu mapeei isso na minha mente. Eu estava no meio da sala, a fila mais distante.

Eu pegaria meu lado direito primeiro. Eu poderia morder quatro ou cinco pescoços por segundo, eu estimei. Eu não faria barulho. O lado direito seria o lado sortudo; eles não me veriam chegando. Me mover para frente e para trás no lado esquerdo me levaria, no máximo, 5 segundos para terminar com cada vida desta sala.

Tempo suficiente para Bella Swan ver, brevemente, o que estava chegando até ela. Tempo suficiente para ela sentir medo . Tempo suficiente talvez, se o choque não congelasse ela no mesmo lugar, para ela começar um grito. Um grito suave, que não traria ninguém correndo.

Eu dei um suspiro profundo, e o cheiro era um fogo que corria pelas minhas veias secas, queimando desde o meu peito até consumir cada impulso de bondade que eu era capaz de ter.

Ela estava se virando agora. Em alguns segundos, ela se sentaria a centímetros de mim.

O monstro na minha cabeça sorriu em antecipação.

Alguém fechou uma pasta com força a minha esquerda. Eu não olhei para cima para ver qual dos humanos condenados era. Mas o movimento mandou uma onda de ar comum, sem cheiro, passando pelo meu rosto.

Por um curto segundo eu era capaz de pensar claramente. Nesse precioso segundo, eu vi dois rostos na minha cabeça, lado a lado.

Um era meu, ou ao menos fora: o monstro dos olhos vermelhos que tinha matado tantas pessoas que eu havia parado de contar. Assassinatos racionais, justificados. Um assassino de assassinos, um assassino de outros, menos poderosos, monstros. Era um complexo de deus, eu sabia disso – decidir quem merecia uma sentença de morte. Era um compromisso comigo mesmo. Eu me alimentei de sangue humano, mas só pela definição solta. Minhas vítimas eram, nos seus vários passatempos obscuros, praticamente tão humanos quanto eu.

O outro rosto era de Carlisle.

Não havia semelhança entre os dois rostos. Eles eram o dia claro e a noite mais escura.

Não havia razão para eles serem semelhantes. Carlisle não era meu pai no senso biológico básico. Não dividíamos um traço comum. A semelhança em nossas cores era um produto do que nós éramos; todo vampiro tinha a mesma pele pálida como gelo. A similaridade na cor dos nossos olhos era outro ponto – reflexo de uma escolha mutua.

Ainda assim, embora não houvesse base para uma semelhança, eu imaginei que meu rosto tinha começado a refletir o dele, até certo ponto, nos últimos setenta anos estranhos, que eu havia abraçado a escolha dele e seguido seus passos. Meus traços não haviam mudado, mas parecia para mim que um pouco da sabedoria dele havia marcado minha expressão, que um pouco da compaixão dele podia ser traçada no contorno da minha boca e pontas de sua paciência eram evidentes nas minhas sobrancelhas.

Todas essas pequenas melhoras tinha se perdido na face do monstro. Em alguns momentos, não restaria mais nada em mim que refletiria os anos que passei com meu criador, meu mentor, meu pai em todos os meios que contavam. Meus olhos virariam vermelhos como o de um demônio; toda a semelhança se perderia para sempre.

Na minha cabeça, os olhos gentis de Carlisle não me julgavam. Eu sabia que ele me perdoaria por esse ato horrível que eu faria. Porque ele me amava. Porque ele pensava que eu era melhor do que realmente era. E ele continuaria me amando, mesmo que eu agora provasse que ele estava errado.

Bella Swan sentou na cadeira ao meu lado, seus movimentos rígidos e desajeitados – com medo? –, e o cheiro de seu sangue se transformou numa nuvem inexorável ao meu redor.

Eu provaria que meu pai estava errado sobre mim. A miséria desse fato machucou tanto quanto o fogo na minha garganta.

Eu me inclinei para longe dela com repulsa – revoltado com o monstro sofrendo para pegá-la.

Por que ela tinha que vir aqui? Por que ela tinha que existir? Por que ela tinha que arruinar essa pequena paz que eu tinha nessa minha não -vida? Por que essa humana agravante tinha que ter nascido? Ela me arruinaria.

Eu virei meu rosto para longe dela, enquanto uma repentina violência, um ódio irracional me lavou por dentro.

Quem era essa criatura? Por que eu? Por que agora? Por que eu tinha que perder tudo porque ela escolheu essa cidade improvável para aparecer?

Por que ela veio aqui?!

Eu não queria ser o monstro! Eu não queria matar essa sala cheia de crianças indefesas! Eu não queria perder tudo que eu havia ganhado durante uma vida de sacrifícios e negações!

Eu não faria! Ela não poderia me obrigar.

O cheiro era o problema, o cheiro horrivelmente apelativo do sangue dela. Se houvesse apenas um meio de resistir... se ao menos uma outra rajada de ar fresco pudesse limpar minha mente.

Bella Swan balançou seus cabelos longos, grossos e cor de mogno na minha direção.Ela era insana? Era como se ela estivesse encorajando o monstro! Tentando-o.

Não havia uma brisa amiga para mandar o cheiro para longe de mim agora. Tudo logo estaria perdido.

Não, não havia uma brisa para ajudar. Mas eu não tinha que respirar.

Parei a corrente de ar para meus pulmões; o alívio foi instantâneo, mas incompleto. Eu continuava tendo a memória do cheiro em minha cabeça, o gosto disso no fundo da minha língua. Eu não poderia resistir até mesmo a isso por muito tempo.

Mas talvez eu pudesse resistir por uma hora. Uma hora. Apenas tempo suficiente dessa sala cheia de vítimas, vítimas que talvez não precisassem ser vítimas. Se eu pudesse resistir por uma pequena hora.

Era um sentimento desconfortável, não respirar. Meu corpo não precisava de oxigênio, mas isso ia contra meus instintos. Eu dependia de cheiro mais que meus outros sentidos, em tempos de estresse. Isso guiava o caminho na caça, era o primeiro aviso em caso de perigo. Eu não cruzava com freqüência com algo tão perigoso quanto eu, mas auto-preservação era tão forte em minha espécie como era na maioria dos humanos.

Desconfortável, mas administrável. Mais suportável que sentir o cheiro dela e não cravar meus dentes por aquela sutil, fina, transparente pele até o quente, molhado, pulsante – Uma hora! Só uma hora. Eu não devo pensar no cheiro, no gosto.

A garota silenciosa manteve seu cabelo entre nós, se inclinando para a frente fazendo-o se espalhar ao longo da mesa. Eu não podia ver seu rosto, para tentar ler as emoções em seus claros, profundos olhos. Era por isso que ela havia deixado suas ondas se espalharem entre nós? Para esconder esses olhos de mim? Longe de medo? Timidez?

Para guardar seus segredos de mim?

Minha irritação precedente por ser bloqueado pelos pensamentos mudos dela era fraca e pálida em comparação com a necessidade – e o ódio – que me possuiu agora. Por eu odiar essa frágil menina do meu lado, odiá-la com todo o fervor com o qual eu me agarrei ao meu eu passado, meu amor pela minha família, meus sonhos de ser algo melhor do que eu era... Odiá-la, odiar o que ela me fez sentir – isso ajudou um pouco.

Sim, a irritação que eu senti antes foi fraca, mas ela, também, ajudou um pouco. Me agarrei a qualquer emoção que me distraísse de imaginar como seria o gosto dela...

Ódio e irritação. Impaciência. A hora nunca passaria?

E quando a hora acabasse... Então ela andaria para fora dessa sala. E eu faria isso?

Eu poderia me apresentar. "Olá, meu nome é Edward Cullen. Poderia te acompanhar até sua próxima aula?"

Ela diria sim. Seria a coisa educada a se fazer. Mesmo já me temendo, como eu suspeitava que ela estivesse ela me seguiria convencionalmente e andaria a o meu lado.

Deveria ser fácil guiá-la para a direção errada. Um pedaço da floresta se esgueirava como um dedo para tocar a esquina de trás do estacionamento. Eu poderia dizer a ela que havia esquecido um livro no meu carro...

Alguém notaria que eu seria a última pessoa com quem ela tinha sido vista?

Estava chovendo, como de costume; duas capas de chuva escuras indo para a direção errada não trariam muito interesse ou me denunciariam.

Exceto por não ser o único aluno que estava consciente dela – embora ninguém estivesse mais consciente do que eu estava. Mike Newton, em particular, estava bem consciente de cada mudança no seu peso enquanto ela mexia no seu cabelo – ela estava desconfortável tão próxima de mim, exatamente como qualquer pessoa estaria, como eu esperava pouco antes do seu cheiro destruir toda a simpática preocupação. Mike Newton notaria se eu saísse da sala de aula com ela.

Se eu conseguisse resistir uma hora, resistiria duas?

Encolhi-me em face da dor da queimação.

Ela deveria ir para uma casa vazia.

O chefe de polícia Swan trabalha o dia todo. Eu conhecia a casa dele, assim como conhecia toda casa, nessa pequena cidade. Sua casa estava no alto em meio a densa floresta, sem nenhum vizinho próximo. Mesmo se ela tivesse tempo de gritar, o que não teria, não existiria ninguém para ouvir.

Este seria o modo responsável de lidar com isso. Eu tinha passado sete décadas sem sangue humano. Se segurasse minha respiração, eu poderia resistir duas horas. E quando a tivesse sozinho, não existiria chance alguma de ninguém se ferir. E nenhuma necessidade de apressar a experiência, o monstro em minha cabeça concordou.

Era um argumento que parecia certo, mas estava errado, pensar que salvando dezenove humanos nessa sala, com trabalho e paciência, eu seria menos monstro quando eu matasse a inocente garota. Embora eu a odiasse, eu sabia que meu ódio era injusto. Eu sabia que o que eu realmente odiava era a mim mesmo. E eu odiaria muito mais nós dois quando ela estivesse morta.

Passei a hora dessa maneira. - imaginando as melhores formas de matá-la. Tentei evitar imaginar o ato em si. Poderia ser muito para mim; poderia perder essa batalha e acabar matando todos à vista. Então planejei uma estratégia e nada mais. Isso me levou por uma hora.

Uma vez, próximo ao final, ela deu uma espiada através lisa parede do seu cabelo. Eu podia sentir o ódio injustificado me queimando quando encontrei o olhar dela – vi o reflexo disso em seus olhos assustados. Ela corou antes de poder se esconder em seu cabelo novamente, estava quase arruinado.

Mas o sino tocou. Salvo pelo sino – quão clichê. Estávamos os dois salvos. Ela salva da morte. Eu salvo por um curto tempo de ser essa criatura medonha que eu temia e odiava.

Não pude andar devagar como eu deveria quando sai da sala. Se qualquer pessoa estivesse olhando para mim, teriam suspeitado que havia algo de errado com o jeito que me movi. Ninguém estava prestando atenção em mim. Todos os pensamentos humanos estavam voltados para a garota que estava condenada a morte em pouco mais de uma hora.

Escondi meu carro.

Eu não gostava de pensar em ter que esconder. Quão covarde isso soou. Mas isso não era inquestionável no caso agora.

Eu não tinha mais disciplina para ficar próximo aos humanos agora. Muito focado nos meus esforços em não matar um deles. Não me deixou opções para resistir aos outros. Que desperdício seria. Se deixasse o monstro vencer eu deveria fazer valer a derrota.

Botei para tocar um CD de música que costumava me acalmar, isso me ajudou pouco. O que ajudou mais foi o frio, úmido e limpo ar que entrava com a fina chuva pelas janelas abertas. Embora eu pudesse lembrar a essência do sangue da Bella Swan com perfeita clareza, inalar o ar limpo era como lavar o interior do meu corpo para se livrar dessa infecção.

Eu estava são novamente. Conseguia pensar novamente. E conseguiria lutar novamente. Conseguiria lutar contra aquilo que eu não queria ser.

Eu não teria que ir à casa dela, não teria que matá-la. Obviamente, eu era racional, era uma criatura pensante, eu tinha escolha. Sempre existiria uma chance.

Não tinha sentido isso na sala de aula... Mas eu estava longe dela agora. Talvez se eu a evitasse muito, muito cuidadosamente, não exista razão para eu mudar minha vida. As coisas estavam na ordem que eu queria agora. Por que eu deixaria alguém piorar uma deliciosa ninguém arruinar isso?

Eu não tinha que desapontar meu pai. Eu não tinha que causar a minha mãe, stress, preocupação... Dor. Sim, eu magoaria minha mãe adotiva, também. E Esme era tão gentil, tão carinhosa e doce. Causar dor a alguém como Esme era extremamente inescusável.

Quão irônico que eu queria proteger essa garota humana da miserável, insignificante ameaça dos pensamentos nojentos de Jéssica Stanley. Eu era a ultima pessoa que deveria se nomear protetor da Isabella Swan. Ela nunca precisaria de mais proteção do que ela precisaria se proteger de mim.

Onde estava Alice, de repente me perguntei. Ela não me viu matando a garotaSwan de várias formas? Por que ela não apareceu para ajudar – para impedir ou me ajudar a eliminar quaisquer evidências? Esta ela muito preocupada com Jasper que ela perdeu essa possibilidade muito mais horrível? Seria mais forte do que eu pensava?

Realmente eu não faria nada com aquela garota?

Não, eu sabia que não era verdade. Alice devia estar muito concentrada em Jasper.

Procurei na direção onde sabia que ela deveria estar, no pequeno prédio usado para as aulas de Inglês. Não levou muito tempo para localizar a tal familiar ‘voz’. E eu estava certo. Todos os pensamentos dela estavam voltados para Jasper, olhando suas escolhas com a precisão a cada minuto.

Eu desejava pedir seu conselho, mas ao mesmo tempo, eu estava contente que ela não soubesse do que eu era capaz. Que ela estava desavisada do massacre que eu considerei na ultima hora.

Senti um novo fogo em meu corpo – o fogo da vergonha. Eu não queria que nenhum deles soubesse.

Se eu pudesse evitar Bella Swan, se eu pudesse evitar matá-la – mesmo enquanto pensava isso o monstro estremecia de frustração – então ninguém precisaria saber. Se eu pudesse me manter longe do seu cheiro...

Não existia nenhuma razão para não tentar. Fazer uma boa escolha. Tentar ser o que Carlisle pensava que eu era.

A última hora de aula estava quase acabando. Eu decidi por meu novo plano em ação. Melhor do que ficar sentado aqui no estacionamento onde ela poderia passar e arruinar minha tentativa. Novamente senti o ódio injustificado pela garota. Eu odiava que ela e esse inconsciente poder sobre mim. Como se ela pudesse me obrigar a fazer algo ofensivo.

Andei rapidamente - talvez muito rápido, mas não haviam testemunhas – através do pequeno campus até secretaria. Não havia nenhuma razão para Bella Swan cruzar o meu caminho aqui. Ela devia ser evitada como a praga que era.

A secretaria estava vazia a não ser pela secretária, quem eu queria ver.

Ela não percebeu a minha silenciosa entrada.

“Senhora Cope?”

A mulher com o cabelo vermelho artificial olhou para cima e seus olhos se abriram. Sempre os pegavam de surpresa as pequenas marcas que eles não conseguiam entender, não importa quantas vezes tenham nos visto antes.

“Oh”, ela falou, um pouco atrapalhada. Ela alisou sua saia. "Boba", ela pensou para ela mesma. "Ele é quase novo o suficiente para ser meu filho. Muito novo para se pensar dessa maneira...". “Olá Edward. O que posso fazer pro você?” Os seus cílios se moveram rapidamente sob os seus grossos óculos.

Desconfortável. Mas eu sabia ser charmoso quando eu queria. Era fácil, desde que eu tinha a habilidade de saber qual tom ou gesto devia usar.

Inclinei-me para frente, encontrando seu olhar como se estivesse olhando profundamente para os seus pequenos olhos castanhos. Os seus pensamentos se moviam “Estava pensando se poderia me ajudar com os meus horários”, disse com uma voz suave que reservei para não assustar humanos.

Ouvi as batidas do seu coração acelerarem.

“Claro Edward. Como posso lhe ajudar?” "Muito novo, muito novo", ela repetia para si mesma. Errada, claro. Eu era mais velho que seu avô. Mas de acordo com minha carteira de motorista, ela estava certa.

“Estava imaginando se poderia mudar da minha sala de Biologia para um nível mais avançado? Física talvez?”

“Algum problema com o senhor Banner, Edward?”

“De forma alguma, é somente porque eu já estudei essa matéria...”

“Na escola avançada que você foi no Alaska, certo.” Seus finos lábios se curvaram enquanto ela considerava isso. "Eles todos deviam estar na faculdade. Eu ouvi os professores reclamarem. Perfeitos, nunca uma hesitação nas respostas, nunca uma resposta errada numa prova – como se eles tivessem uma maneira de trapacear em cada assunto. O senhor Varner preferia acreditar que o aluno estava trapaceando a aceitar que alguns deles é mais inteligente que ele... aposto que a mãe dele os ensina...". “Na verdade, Edward, física esta bem cheia agora, o senhor Banner odeia ter mais que vinte e cinco alunos na sala –“

“Eu não seria nenhum problema.”

Claro que não. Não um perfeito Cullen. “Eu sei disso Edward. Mas não tem lugares suficientes...”

“Posso abandonar a matéria então? Poderia usar o tempo para estudos independentes”.

“Largar biologia?” Ela ficou de boca aberta." Isso é loucura. Quão difícil deve ser ter que falar algo que você já sabe.? Deve existir um problema com o senhor Banner. Fico imaginando se deveria falar com Bob sobre isso?". “Você não terá créditos suficientes para se formar”

“Eu recupero ano que vem.”

“Talvez você deva falar com seus pais a respeito disso.”

A porta se abriu atrás de mim, mas quem fez isso não pensou em mim, então ignorei a chegada e me concentrei na senhora Cope. Inclinei-me mais um pouco, e segurei meus olhos um pouco mais abertos. Isso deveria funcionar melhor se eles estivessem dourados no lugar de pretos. Escuridão assusta as pessoas, como devia.

“Por favor, senhora Cope?” Falei com uma voz mais macia e convincente que poderia – e era consideravelmente convincente. “Não existe outra com qual pudesse trocar? Tenho certeza de que deve ter uma vaga em algum lugar? Sexta hora de biologia não deve ser a única opção...”

Sorri para ela cuidadosamente para não mostrar meus dentes tão abertamente de forma que iria assustá-la, deixando uma expressão leve em meu rosto.

Seu coração bateu ainda mais forte." Muito novo", ela relembrava. “Bem, talvez eu possa falar com Bob, digo senhor Banner. Poderia ver se – “Levou um segundo para mudar tudo: a atmosfera na sala, minha missão aqui, a razão de eu me inclinar em direção a mulher ruiva...o que tinha sido por um propósito antes era agora por outro. Levou um segundo para Samantha Wells abrir a porta e colocar um aviso na cesta próximo a porta, e sair novamente, com pressa em sair da escola. Foi um segundo que levou para um repentino vento entrar pela porta aberta e me atingir. Um segundo foi o suficiente para que percebesse para saber porque a primeira pessoa que entrou não a sala não me interrompeu com os seus pensamentos.

Embora não precisasse confirmar. Me virei lentamente, brigando para controlar os músculos que se rebelavam contra mim.

Bella Swan permaneceu com suas costas pressionadas na parede ao lado da porta, um pedaço de papel amassado em suas mãos. Seus olhos estavam ainda mais abertos do que o normal quando ela olhou para o meu não humano e feroz olhar.

O cheiro do seu sangue saturava cada partícula do ar na pequena e quente sala.

Minha garganta queimava em chamas.

O monstro novamente me encarou através do espelho dos meus olhos, uma mascara do perverso.

Minha mão hesitou no ar sobre o balcão. Eu não teria que olhar para trás para atravessar e bater a cabeça da senhora Cope na mesa com força suficiente par a matá-la duas vidas era melhor do que vinte. Uma troca.

O monstro esperou ansiosamente, sedento, para que eu fizesse.

Mas sempre existia uma escolha – devia ter.

Cortei o movimento dos meus pulmões, e fixei a face de Carlisle em meus olhos.

Virei-me para encarar a senhora Cope, e ouvir sua surpresa interna com a mudança da minha expressão. Ela se encolheu, mas o seu medo não formou palavras coerentes.

Usando todo o controle que eu possuía com séculos de auto-negação, tornei minha voz macia e uniforme. Existia ar o suficiente em meus pulmões para falar mais uma vez, correndo com as palavras.

“Deixa para lá. Vejo que é impossível. Muito obrigada pela sua ajuda.”

Virei-me e sai da sala, tentando não sentir o calor do sangue quente do corpo da garota por qual passei com centímetro de distância.

Não parei até estar no meu carro, me movendo rápido durante todo o caminho.

Muitos dos humanos já tinha ido embora, então não tinha muitas testemunhas.

"De onde veio o Cullen – foi como se ele tivesse aparecido no ar – Aqui estou eu imaginando de novo. Mamãe sempre diz..."

Quando entrei dentro do Volvo, os outros já estavam lá. Tentei controlar minha respiração, mas estava ofegando como se estivesse sufocado.

“Edward?” Alice perguntou, alarme em sua voz.

Apenas balancei a minha cabeça.

“O que diabo aconteceu com você?” Emmett perguntou, distraído, no momento, do fato que Jasper não estava com humor para uma repetição.

Ao invés de dar uma resposta, eu dei ré. Eu tinha que sair daqui antes que Bella Swan pudesse me seguir aqui também. Meu próprio demônio pessoal, me perseguindo...

Virei o carro e acelerei. Atingi oitenta antes de alcançar a estrada. Na estrada atingi cento e quarenta antes de virar a esquina.

Sem olhar, eu sabia que Emmett, Rosalie e Jasper se viraram e encararam Alice.

Ela tremeu. Ela não podia ver o que tinha passado, apenas o que aconteceria.

Ela olhou para o meu futuro. Ambos processamos o que ela viu na sua mente e ambos ficamos surpresos.

“Você está indo embora?”

Os outros olharam para mim.

“Estou?”, perguntei entre dentes.

Ela viu isso e então fiz outra escolha que levou o meu futuro para uma direção mais escura.

“Oh.”

Bella Swan morta. Meus olhos brilhando com sangue fresco. A perseguição que se seguiria. O tempo que esperaríamos antes de irmos embora e começarmos novamente...

“Oh.” Disse ela novamente ficou mais especifica. Eu olhei dentro da casa do chefe Swan pela primeira vez e vi Bella numa pequena cozinha com os armários amarelos, suas costas para mim como se a tivesse seguido pelas sombras...o cheiro me empurrando na direção dela....

“Pare!”. Gritei sem condições de aguentar mais.

“Desculpe”, ela murmurou, seus olhos bem abertos.

O monstro adorou.

E a visão em sua mente mudou novamente. Uma estrada vazia à noite, árvores ao redor cobertas de neve, passando num flash a mais de duzentos quilômetros pro hora.

“Sentirei sua falta” Ela disse. “Não importa por quanto tempo você esteja fora”.

Emmett e Rosalie trocaram olhares apreensivos.

Estávamos quase na curva na longa estrada que levava para a nossa casa.

“Deixa a gente aqui”, Alice instruiu. “Você deve contar a Carlisle você mesmo.”

Eu concordei, e o carro balançou com a parada brusca.

Emmett, Rosalie e Jasper saíram em silencio; eles fariam Alice explicar tudo depois, quando eu tivesse ido. Alice tocou meu ombro.

“Você vai fazer a coisa certa”, ela murmurou. Não era uma visão desta vez – uma ordem. “Ela é a única família do chefe Swan. Isso o mataria também.”

“Sim”, eu disse, concordando apenas com a última parte.

Ela saiu para se juntar aos outros, suas sobrancelhas se juntando em ansiedade.

Eles entraram na floresta, fora de vista antes que eu virasse o carro.

Acelerei em direção a cidade, e soube que as visões de Alice mudariam de escuras para claras. Enquanto corria de volta para Forks a noventa, eu não tinha certeza para onde ia. Para dizer adeus ao meu pai? Ou para me unir ao monstro dentro de mim?

A estrada voava sob os meus pneus.

 

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